Comentário sobre o Livro de Atos

01/09/2012 11:40

 

1.         Estudo sobre o livro de Atos dos Apóstolos

Estudo sobre os acontecimentos referentes aos primeiros anos da igreja cristã, de acordo com o relatado no livro de Atos dos Apóstolos

2.         Apresentação

“... E ser-me-eis testemunhas ...”, começando por Jerusalém até atingir todas as partes da terra. Esta foi a grande tarefa que Jesus ordenou aos seus discípulos, os quais viviam um momento de grande euforia espiritual causada pelo tremendo milagre da ressurreição do Senhor.

Os nossos irmãos do primeiro século (da igreja Primitiva) cumpriram cabalmente com esta privilegiada missão. O evangelho foi pregado em todo o mundo. O poderoso império Romano sofreu o impacto da nova mensagem que mudara os corações e costumes de homens e mulheres.

O livro de Atos dos Apóstolos relata as partes importantes dessa maravilhosa história de homens destemidos e obedientes a Deus que pela proclamação do Evangelho alvoroçaram o mundo (Atos 17.6). Foram perseguidos, açoitados, apedrejados, caluniados mas permaneceram firmes e fiéis e podiam dizer:

“No dia de hoje vos afirmo que estou limpo do sangue de todos, porque nunca vos deixei de anunciar todo o conselho de Deus. Olhai pois por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu pastores para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”. (Atos 20.26-28)

Com o exemplo destes homens em nossa mente, preparamos este livro com o propósito de utilizá-lo em todos o nosso desejo é que o estudo deste livro leve muitas pessoas a tomarem a decisão certa: “Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido”. Atos 4.20)

3.         Introdução ao Livro de Atos dos Apóstolos

a.       Tema: O livro de Atos narra a história do estabelecimento da igreja Cristã, bem como seu desenvolvimento e a propagação do Evangelho de Cristo ao mundo conhecido da época. O livro de Atos é uma obra histórica, da qual o Evangelho de Lucas constituiu o primeiro livro. Descreve os estágios, fases pelas quais o cristianismo passou e se espalhou desde Jerusalém até Roma.

b.      Autoria: O fato de o autor fazer referência a um primeiro livro (tratado Atos 1.1) é a indicação de que o Evangelho de Lucas é a primeira porção desta obra histórica, o qual também é dirigido a um mesmo destinatário “Teófilo” (Lc 1.3) sendo Portanto os dois volumes escritos pelo Dr. Lucas. Além disso o vocabulário e o estilo de ambos são notavelmente semelhantes. Apesar de não mencionar no Livro de Atos o seu nome, o autor se denuncia em algumas passagens ao empregar o pronome de 1a pessoa do plural (nós) incluindo-se desta forma em algumas partes das viagens como companheiro do apóstolo Paulo (At 16.10-15; 20.5; 21.18; 27.1-20; 28.2; 11-16), tendo inclusive o acompanhado até Roma (Cl 4.1-4; Fl 24; II Tm 4.11).

c.       Data: A maioria dos eruditos concordam que este livro só foi escrito após o aprisionamento do apóstolo Paulo em Roma, fato que se deu por volta de 63 D.C.

d.      Destinatário: Conforme já mencionado acima, o Livro de Atos foi escrito particularmente a Teófilo, de quem nada mais se sabe. Provavelmente tenha sido um notável  gentio convertido ao cristianismo e residido em Roma. Pelo fato de Lucas dirigir-se a ele como “excelentíssimo” alguns supõem que talvez Teófilo tivesse ocupado posição de autoridade, visto ser esta expressão usada somente quando dirigida a alguém que ocupasse um alto posto, como vemos em Atos 23.26, na carta ao governador Félix: “Cláudio Lísias ao excelentíssimo governador Félix, saúde”. Entretanto cremos que pela orientação do Espírito Santo este livro, embora originalmente tenha sido dedicado a Teófilo, foi principalmente escrito a nós continuadores desta obra e pertencentes a igreja de Cristo.

e.       Versículo chave: Atos 1.8 - O livro de Atos contém três grandes e importantes divisões que nos são fornecidas pelo seu versículo chave 1.8, isto é, tomando-se At 1.8 como ponto de referência, podemos dividir os 28 capítulos do livro em 3 partes, o primeiro, o testemunho em Jerusalém - Atos 1.1 e 8.3, em seguida, o testemunho em toda a Judéia e Samaria - At 8.4; 12.25 e por último, o testemunho até os confins da terra - Caps. 13 a 28

4.         Acontecimentos preliminares à propagação do Evangelho - (Cap. 1)

4.1          A ascensão de Cristo - (Cap. 1.1-11)

Pouco antes de sua ascensão, Jesus repete aos seus discípulos a mesma promessa que havia feito, antes de sua morte, com referência ao revestimento de poder através do derramamento do Espírito Santo (Jo 14.16; 15.26; 16.7-13) conforme predito pelo profeta Joel (Joel 2.28-29). No versículo 6 a indagação dos discípulos a respeito da restauração do reino de Israel, revela uma concepção estreita e nacionalista.

Esperavam um reino político e temporal, porém a crucificação de Jesus os obrigou a abandonarem tal esperança. A resposta de Jesus (v. 7) declarou, de conformidade com Deuteronômio 29.29 que só compete ao Pai conhecer certos mistérios que não nos quis revelar; e por outro lado, (v. 8), aos seus discípulos cabia o testemunhar no poder do Espírito Santo. Parece que Jesus queria que os discípulos compreendessem que o reino viria através do testemunho deles. (Lc 17.20-21; Mt 24.14).

4.1.1          Os discípulos em Jerusalém - (Cap. 1.12-14)

No Monte das Oliveiras, cenário da agonia de Jesus antes de sua prisão e morte, estavam agora reunidos os discípulos com seu Mestre que estava prestes a deixá-los, porém agora ressurrecto. Ao ascender, Jesus, desaparecendo da vista deles, sendo encoberto pelas nuvens, dois varões vestidos de branco lhes consolam com a seguinte promessa:

“... Esse Jesus que dentre vós foi recebido nos céus, virá assim da mesma maneira como o vistes subir”. (O monte da agonia e da ascensão de Jesus será ainda o palco de sua 2a. vinda). Em obediência à ordem de Jesus para que guardassem o cumprimento da promessa do Pai, os discípulos voltaram para Jerusalém, que distava do Monte das Oliveiras cerca de 1 Km, o que é equivalente a jornada dum sábado (v.12). Ao chegarem, os discípulos se estabeleceram num aposento do andar superior de uma casa em Jerusalém (as casas judaicas terminavam em um terraço com parapeito. Frequentemente este terraço era uma grande sala coberta, chamada “sala superior”, “câmara alta”, ou simplesmente “cenáculo”).

4.1.2          Convém notar quatro coisas importantes:

a.       Os 11 estavam unânimes - Antes da cruz cada um queria ser o maior (Mt 20.24). “Estar de pleno acordo” é a expressão chave para que a obra de Deus seja realizada (Am 3.3).

b.      Todos perseveravam em oração - Isso incluía a fidelidade ao templo nas horas de oração de manhã e a tarde. Conservaram uma atmosfera de oração e louvor, sua principal ocupação nesses dias (Lc 24.53).

c.       Lucas fez questão de mencionar a presença das mulheres nessa reunião - E de modo especial fez referência a Maria, mãe de Jesus. Podemos estar certos de que ela também recebeu o Espírito Santo.

d.      Os irmãos de Jesus estavam presentes, embora antes da cruz não cressem nEle - (Jo 7.5). - Jesus, entretanto, fez uma aparição especial ao seu irmão mais velho Tiago (I Co 15.7). Tiago e Judas tornaram-se mais tarde, líderes da igreja de Jerusalém (At 12.17; 15.13; 21.18; Gl 2.9; Tg 1.1; Jd 1).

4.2          A eleição de um apóstolo - (Cap. 1.15-26)

Com base na profecia contida no livro dos Salmos 69.25: “... e tome outro o seu encargo”. Pedro dirigindo-se às 120 pessoas, faz sentir a necessidade de escolherem um substituto para Judas Iscariotes. É importante notar, entretanto, que o fato de Judas ter-se tornado uma alma perdida criou a necessidade de substituí-lo.

Quando Tiago, irmão de João, foi martirizado, ninguém foi escolhido para tomar seu lugar (At 12.2), porque Tiago ressuscitará para reinar com os 12 no reino vindouro, o que não sucederá com Judas Iscariotes. A condição exigida para que alguém pudesse torna-se um dos doze foi a seguinte: ter sido testemunha ocular, isto é, ter andado com Jesus, desde quando ele foi batizado por João Batista até a sua ascensão (vs. 21-22). Dois homens eram os que melhor correspondiam às condições. José chamado Barsabás (filho do sábado), que, como muitos, tinha um sobrenome romano, justo, e Matias sobre o qual Eusébio, um historiador da Igreja do Terceiro século, diz que era um dos 70 enviados por Jesus em Lucas 10.1.

Oraram em primeiro lugar para fazer a escolha, reconhecendo que o Senhor Jesus sabia qual dos dois ele queria como o décimo segundo apóstolo. Então eles usaram o método do antigo Testamento de deitar sortes, seguindo o precedente de Pv 16.33.

Nota: O método consistia em escrever o nome de cada candidato num pequeno pedaço de madeira colocando ambos dentro dum vaso. Em seguida, sacudiam o vaso até que um dos pedaços pulasse para fora. Esse então seria o escolhido.

Eles acreditavam que Deus controlaria as leis da casualidade e, por esse meio, mostraria sua vontade.

O Livro de Atos entretanto, nunca mais volta a mencionar este método. Depois do Pentecostes eles passaram a contar com o Espírito Santo para guiá-los na tomada de decisões. O sucessor de Judas Iscariotes passou a ser Matias.

Nos nossos dias vemos, ao olhar para esse exemplo, reconhecer que ninguém é insubstituível na obra de Deus, pois Deus tinha um Josué para ocupar o lugar de Moisés, tinha também um Eliseu para ocupar o lugar de Elias e teve um Matias para ocupar o lugar de Judas.

5.         O Testemunho em Jerusalém - (Cap. 2.1 a 8.3)

5.1          O derramamento do Espírito Santo - (Cap. 2.1-13)

O marco da fundação da igreja em Jerusalém foi sem dúvida o derramamento do Espírito Santo. Três festas judaicas simbolizavam perfeitamente a morte, ressurreição e o derramamento do Espírito Santo.

A Páscoa (Lv 23.5) era simbologia da morte expiatória de Cristo, “O Cordeiro de Deus”. Seguindo-se a festa da Páscoa, comemorava-se a festa das primícias (Lv 23.10-14). Nessa festa as primícias da colheita eram movidas diante do Senhor. Era uma cerimônia simbólica da ressurreição de Cristo, como “a primícia dentre os mortos” (I Co 15.20). A partir desta festa contava-se 50 dias e celebrava-se a festa de Pentecostes. Nesta festa os primeiros pães da colheita de trigo eram movidos perante o Senhor, sendo isto o símbolo da consagração das primícias da igreja, isto é, dos primeiros membros da igreja Cristã.

Devido a estas comemorações, judeus e prosélitos (gentios convertidos ao judaísmo) espalhados pelo mundo todo, se faziam presentes em Jerusalém, para poderem participar destas importantes festas.

Pelo menos 15 idiomas diferentes são mencionados (At 2.9-11). Os 15 povos enumerados representam o mundo conhecido daquela época; Ásia, África e Europa (representada pelos romanos e pelos gregos).

O derramamento do Espírito Santo foi acompanhado de três manifestações sobrenaturais: Um som como de um vento impetuoso. Línguas como que de fogo sobre cada um. Passaram a falar em outras línguas. Nota: sabendo-se que Jesus ressuscitou no dia da páscoa e que “após haver ressuscitado, se apresentou vivo ... durante quarenta dias ... (At 1.3) e que o derramamento do Espírito ocorreu no dia de Pentecostes (At 2.1-4) conclui-se que a oração iniciada pelas pessoas no cenáculo se prolongou numa busca de 10 dias, visto que o Pentecostes comemorava-se cinquenta dias depois da páscoa. A expressão “estavam todos reunidos no mesmo lugar”(At 2.1) dá-nos a idéia de que o derramamento do Espírito ocorreu no mesmo cenáculo mencionado no capítulo 1, verso 13. Obs.: Este derramamento do Espírito Santo se deu acompanhado do dom variedade de línguas. Assim, tão logo os 120 foram batizados falavam em línguas e eram entendidos pela multidão que estava ao lado de fora . Nem sempre o batismo com o Espírito Santo se dá acompanhado do dom de línguas, pois na maioria dos casos o que se vê é a pessoa falar em línguas estranhas como sinal externo ou evidência do batismo.

5.2          O primeiro sermão de Pedro - (Cap. 2.14-36)

Ao dirigir a palavra à multidão ali presente, Pedro procurou enfatizar ser Jesus o Cristo (O Messias tão esperado pelos judeus), destacando em seu sermão três pontos principais: As suas obras - v.22; A sua ressurreição - vs. 23-32; O derramamento do Espírito Santo - vs. 33-36. Nota: Ao tomar a palavra, Pedro (v.14) nega que o estado de êxtase por todos testemunhados (vs. 7, 11,12) fora  resultado de embriaguez, conforme alguns diziam. Seu argumento (ser apenas a terceira hora do dia, 9 horas da manhã) foi bastante forte porque, segundo a história, “os judeus nos dias de festa não comiam e nem bebiam senão depois de terminadas as orações da manhã, que se prolongavam até a hora sexta (meio-dia). E era a festa do Pentecostes.

Como introdução ao seu sermão Pedro cita o profeta Joel (cap. 2.28 a 32), afirmando que esta profecia acabava de cumprir-se naquele momento, isto é, 800 anos depois (Joel 830-800 a.C.)

Percebeu-se claramente o efeito da possessão do Espírito Santo na vida de Pedro  que acabara de torná-lo “testemunha”, pois fala com autoridade, ousadia e coragem, inclusive no v. 36 chama aos judeus de assassinos sendo que antes fôra covarde, temendo identificar-se como seguidor de Cristo. A ousadia de Pedro leva os ouvintes a perguntarem “que faremos?” (v. 37) pois o espírito convence o homem do pecado. Com isso Pedro teve a oportunidade de levá-los a uma decisão de arrependerem-se e serem batizados (vs. 38-39) e como consequência houve um acréscimo de quase 3000 pessoas.

Nota: Vers. 38 - os discípulos batizavam em nome do pai, do filho e do Espírito Santo, porém ao mencionar o batismo diziam em nome de Jesus, para o distinguir do batismo de João Batista - vers. Mt 3.5-6; 28.19.

5.3          O estilo de vida dos primeiros convertidos - (Cap. 2.37-47)

“... perseveravam na doutrina...”- o verdadeiro convertido persevera. Para perseverar na doutrina é necessário conhecê-la intimamente, estudando as Escrituras versículo por versículo, participação dos cultos no templo (At 3.1; 5.42) e nos lares (At 5.42).

“... perseveravam ... na comunhão” - Alegravam-se na convivência com aqueles que criam no mesmo salvador e amavam ao mesmo Senhor que eles.

“... perseveravam ... no partir do pão...” -  Refere-se à Ceia do Senhor, da qual participavam juntos Todos Os Dias, o que lhes unificava ainda mais o espírito na adoração.

“... perseverava ... nas orações” - Passavam muito tempo em oração. Não faziam como muitos em nossos dias que ao serem batizados no Espírito, deixam de orar (v. 43). “em toda alma havia temor” - esse temor contagiava os incrédulos pelo fato de perceberem que na realidade Deus estava com eles, e por isso olhavam para a igreja com reverência. Como consequência da vida de fé, oração e obediência “muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos”.

“Estavam juntos... tinham tudo em comum... vendiam suas propriedades... e repartiam... “ - Atendiam-se mutuamente no tocante às necessidades materiais. A igreja era contrária ao espírito do comunismo: A igreja dizia - “tudo o que tenho é teu”; o comunismo diz: “Tudo o que tens é meu”. Todas estas características dos primeiros cristãos: gozo, alegria, comunhão, bênçãos nos lares, amor ardente manifesto de muitas maneiras e pelos prodígios operados através dos apóstolos, atraíam os de fora ao Evangelho, e o resultado óbvio era o extraordinário crescimento em número de almas salvas.

5.4          A primeira oposição - (Cap. 3.1 a 4.31)

5.4.1          A  cura de um coxo

Em frente a porta do templo, que fazia juz ao seu nome: formosa com seus 24 metros de altura, 20 metros de largura, de metal coberto de ouro e de prata, e que devido ao seu peso fazia-se necessário 20 homens para poderem abri-la ou fechá-la; um mendigo, um coxo assentado contrastava com tanta riqueza e formosura. Esse coxo, conhecido  de toda cidade, diariamente era carregado e deixado ali para esmolar por volta da hora nona (15:00h) Pedro e João, ao subirem ao templo para a oração costumeira, defrontaram-se com o coxo que lhes pede uma esmola; porém recebeu por intermédio daqueles apóstolos algo incomparavelmente melhor: sua cura completa. Raramente os servos do Senhor possuem abundância de bens materiais, mas devem possuir poder e autoridade para conferir bênçãos aos outros. Conta-se a história de São Tomáz de Aquino, no século XIII, ao visitar o papa Inocêncio II, foi recebido em uma suntuosa sala. O papa ocupado em contar grande importância de dinheiro, disse sorrindo: - Olha Tomáz, a igreja não diz mais: “Não tenho ouro nem prata”. São Tomáz respondeu-lhe imediatamente: - é verdade, mas também não diz mais: “Em nome de Jesus, o Nazareno, anda!”

Para o papa, o acúmulo de bens era a grande vitória da Igreja. Para Tomáz de Aquino era o grande declínio espiritual da igreja.

Aquele milagre extraordinário fez com que todo o povo corresse, atônito, para o portal do templo, conhecido com Pórtico de Salomão.

5.4.2          O segundo sermão de Pedro

Uma multidão cheia de perguntas estampadas em seus rostos; Essa era a oportunidade de Pedro, para testemunhar do poder de seu amado Senhor. Ao dirigir-se à multidão Pedro preocupou-se primeiro (v. 12) em desviar os olhos da multidão, de si mesmo e de João, afirmando que não havia sido pelo seu próprio poder que a cura aconteceu. Segundo: (vs. 13-18) atribuiu de forma reconhecida esta cura ao poder da fé em Jesus Cristo. Terceiro: fez um apelo ao arrependimento (comparar com At. 2.38).

Em suma, em seu sermão Pedro mostra Cristo ressurrecto e a necessidade de se crer nele.

5.4.3          A ousadia de Pedro e João perante o Sinédrio

Nota: Sinédrio era um tribunal judeu composto de 71 membros eleitos dentre os legítimos descendentes de famílias israelitas. Os setenta membros do sinédrio correspondem aos setenta anciãos nomeados por Moisés para assisti-lo como juizes no governo do povo. Assim se compunha o supremo Tribunal com direitos de vida e de morte.

O oficial do templo era um sacerdote que tinha às suas ordens uma guarda de levitas para a manutenção da ordem no templo (Lc 22.4).

Os membros do conselho estavam aborrecidos porque Pedro e João estavam assumindo o papel de líderes religiosos e tinham proclamado que Jesus levantara-se dos mortos. Somente  o sinédrio poderia conceder a autorização a alguém para que fosse reconhecido como líder religioso e intérprete da lei. Além disso, o fato de proclamarem a ressurreição de Jesus fez com que principalmente os saduceus se levantassem contra os apóstolos. O conselho era composto por fariseus e saduceus (seitas judaicas) mas os saduceus não acreditavam haver ressurreição (nem anjos, nem espíritos - Mt 22.23).

A ressurreição é a ênfase do Evangelho através do livro de Atos. Perante o sinédrio Pedro aproveitou a oportunidade para testemunhar diante das autoridades cumprindo-se desta forma as palavras de Jesus (Mt 10.16-20). Nessa ocasião também Pedro afirmou ser Jesus a pedra, rejeitada pelos Judeus, sobre qual a igreja está edificada. At 4.11 “Jesus é a pedra”.

Nota: O nome Pedro, no original grego é PETROS - que significa pedregulho ou pequena pedra. Logo, Cristo jamais edificaria sua igreja sobre algo que não fosse oferecesse estabilidade, firmeza. Porém, Pedro mesmo afirma que Jesus a Pedra original grego - PETRA - que significa rochedo, capaz de sustentar o crescimento da igreja (ver Mt 16.18; At 4.11; Ef 2.19-22; I Pd 2.6-8).

Como homens iletrados que eram Pedro e João, sua intrepidez causou admiração aos membros do sinédrio, os quais tiveram que reconhecer que “... haviam eles estado com Jesus” (V.13). Não podendo negar o sinal notório praticado por eles (V. 16) e não tendo como os castigar (V.21) os soltaram proibindo-os de continuar a falar de Cristo e ameaçando-os.

5.4.4          A Igreja em oração

É interessante notar que grande parte do sucesso no ministério dos apóstolos devia-se ao fato de que constantemente a igreja fazia intercessões aos seu favor. Em face às dificuldades não pediam remoção destas, porém, ousadia para enfrentá-los e intrepidez para anunciarem a palavra. Pediam ainda operação de sinais e prodígios, oração esta que foi imediatamente respondida conforme se lê no v. 31, onde ao tremer o lugar, todos foram cheios do Espírito Santo, e a intrepidez pedida foi concedida e anunciavam a Palavra de Deus.

5.4.5          A comunidade Cristã, o primeiro caso de disciplina

(4.32) Como resultado de avivamento entre os cristãos primitivos havia uma maravilhosa unidade. “Todas as coisas lhes eram comuns”. Isso de maneira liberal e não com obrigatoriedade. A comunidade de bens e a propriedade não era imposta, porém eles faziam com amor. O total arrecadado não era repartido com todos, mas “repartia-se segundo a necessidade que cada um tinha”(v. 35). José Barnabé (levita, filho da exortação ou consolação) (v. 36, 37) foi um bom exemplo da prática da comunidade de bens em contraste com Ananias e Safira (cap. 5.1-2) um exemplo desastroso.

Esse casal quis ser bem visto pelos homens, como se fossem “generosos”. Preocupavam-se em agradar aos homens não a Deus.

Foi o primeiro vestígio de corrupção na igreja. Até mesmo as igrejas cheias do Espírito Santo não têm a garantia de serem livres do pecado, pois tanto o “joio” como o “trigo” tem que crescer juntos. Satanás tendo falhado ao atacar a igreja do lado de fora (usando os judeus saduceus) conseguira desta feita desferir um golpe de mestre atacando-a do lado de dentro usando Ananias e Safira como instrumentos. A sugestão foi de satanás (5.3) mas a aceitação foi de Ananias (5.4). Pedro preocupou-se em deixar claro que não houve coação, pois a venda do imóvel não era obrigatória assim como não era obrigatória a entrega do dinheiro (5.4). O pecado consistia na tentativa de enganar ao homem de Deus e na mentira contra o Espírito Santo, o que implica em tentar o Espírito de Deus.

Devido a gravidade do pecado tanto Ananias como sua esposa, que três horas mais tarde confirmou a mesma mentira, foram punidos com a morte (5.7-10).

A finalidade da punição era a de evitar que outros caíssem no mesmo pecado; (v.11) : “... sobreveio um grande temor em toda a igreja, e em todos que ouviram estas coisas”.

Nota: Quanto a possibilidade de salvação de Ananias e Safira é mínima ou mesmo nenhuma.

Morreram em pecado planejado. Ler Ezequiel 18.24 e I Pedro 4.18

Talvez não tenha havido tempo para clamarem por misericórdia e perdão. Ler provérbios 29.1.

Teriam os apóstolos aceito o dinheiro por eles ofertado? Talvez sim . A parte ofertada não era imunda aos que receberam; a parte retida sim era imunda aos que retiveram. Ler números Cap. 16. Utilizaram-se por ordem divina dos 250 incensários dos 250 homens consumidos pelo fogo do Senhor.

5.4.6          A primeira perseguição

5.4.6.1         Seus motivos

Com a crescente popularidade dos apóstolos, em face dos grandes milagres realizados (vs. 12-16) a multidão aumentava grandemente, inclusive vindo pessoas das cidades vizinhas, talvez de Hebrom, Belém, Emaús e Jericó.

Continuavam as reuniões no Pórtico de Salomão e os líderes religiosos tomados de inveja (v 17) tentam pela segunda vez sufocar o avanço do Cristianismo.

5.4.6.2         Prisão e livramento

Os saduceus controlavam o serviço do templo. Foram os mais contestados por Cristo em suas pregações.

Antes do Pentecostes a perseguição era dirigida pelos fariseus. Estes eram muito formais em sua religião como são os religiosos de hoje, cheios de formalidades, mas sem fruto. Depois do Pentecostes os saduceus tomaram a dianteira. Estes, por não crerem em ressurreição, espíritos e nem anjos, são comparáveis aos modernistas de nossa época, que negam tudo o que seja sobrenatural.

Acompanhando o sumo Sacerdote (provavelmente Anás ou Caifás) os saduceus aprisionaram desta vez todos os apóstolos. Porém o Senhor enviou à noite um anjo que os libertou e ordenou que voltassem para prosseguir em sua missão. Foram libertos de maneira miraculosa pois, no dia seguinte ao serem procurados pelos servidores, não foram encontrados, mas o cárcere achava-se fechado com toda a segurança e os guardas permaneciam em seus postos do lado de fora.

5.4.6.3         O segundo aprisionamento

Ao receberem a notícia de que os apóstolos estavam novamente ensinando ao povo no templo, foram e trouxeram-nos à presença do conselho e outra vez foram interrogados pelo sumo Sacerdote. Sem que fosse essa a sua intenção o sumo Sacerdote faz um elogio ao trabalho dos apóstolos quando afirmou: “...enchestes Jerusalém desta doutrina...”(v. 28). Os apóstolos continuaram afirmando que Jesus era justo, donde se concluía que os líderes judaicos foram injustos ao concederem um justo à morte.

Diante do mesmo Sinédrio que condenou Jesus à morte e da advertência do Sumo-sacerdote: “Não vos admoestamos expressamente que não ensinásseis mais nesse nome?” (5.28) Pedro corajosamente respondeu: “... mais me importa obedecer a Deus do que a homens” e isto tornava as ordens do sinédrio, para ele, sem efeito.

Ao ouvirem ainda a ousada afirmação de que eles eram culpados de homicídio por terem matado aquele que traria a libertação ao povo de Israel, enfureceram-se e tomaram a decisão de matar aos apóstolos.

5.4.6.4         A defesa de Gamaliel

Gamaliel, mestre da lei, membro do conselho, interviu na decisão de matar os apóstolos dizendo que deveriam ser cautelosos e prudentes, a ponto de entender que Deus tem capacidade de mostrar qual é a sua vontade. Para provar isto, cita o caso de Teudas e Judas, concluindo que deveriam soltar os apóstolos e esperarem, pois, disse ele: “...se a obra é de homens, se desfará, mas se é de Deus não podereis desfazê-la, para que não aconteça de serdes também achados combatendo contra Deus.”

5.4.6.5         Açoite e soltura

O conselho concordou com a sábia orientação de Gamaliel, mas mesmo assim, ainda castigaram os apóstolos açoitando-os e antes de deixá-los ir os advertiram a não mais falarem no nome de Jesus. Estes, ao invés de lamentarem, se regozijaram por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por Jesus.

Apesar da advertência das autoridades eles continuaram pregando a palavra e ensinando, tanto no templo como de casa em casa. Nota: Gamaliel - Mestre do apóstolo Paulo, crê-se que também o foi de Barnabé, foi um dos mais conceituados rabinos judeus. Presidiu o sinédrio durante os reinos de Tibério, Calígula e Cláudio, e segundo a tradição, morreu cristão. Teudas - Liderou um grupo de insatisfeitos ao rio Jordão, prometendo-lhes dividir as águas como Josué o fez. Foi, porém, mal sucedido sendo dominado pelo procurador romano Fadus e decapitado pelos soldados, os quais mataram também muitos dos seus seguidores. Judas - Liderou uma revolta contra os romanos no ano 6 d.C. Judas, o galileu, juntamente com os seus seguidores foi derrotado por Herodes o Grande, e imediatamente dominado pelos romanos. Açoites - Os apóstolos receberam 39 açoites nas costas nuas com chicotes de tiras de couros, com chumbo nas pontas.

5.4.7          A primeira organização

Com o crescimento numérico de discípulos, começaram a surgir dissensões e o “velho pecado da murmuração” começa a ocorrer. O socorro aos necessitados, dos quais uma grande parte eram viúvas, fazia parte do trabalho da recém nascida igreja. Porém os apóstolos já não conseguiam dar conta do trabalho, administração e pregação, e em face desta circunstâncias acabaram por esquecer-se de algumas viúvas, no caso as gregas ou helenistas. O esquecimento é humano principalmente no caso dos apóstolos com sua vida agitada, pois eram no número de doze para dar conta de no mínimo 5.000 pessoas (sem contar as mulheres e crianças, que normalmente ultrapassam o número de homens).

Este acontecimento fez com que os apóstolos percebessem que era grande de demais o seu fardo de trabalho e que estavam sendo desviados do seu dever primário. Então os doze (os apóstolos incluindo Matias) convocaram a multidão dos discípulos e lhes disseram que não era razoável que eles deixassem a Palavra de Deus e servissem as mesas, isto é, deixar as coisas espirituais (oração e ensino) para cuidar das materiais (distribuição de dinheiro para as viúvas). Decidiram então deixar que a multidão dos discípulos escolhesse entre eles sete homens que se encarregariam deste serviço. Notemos que o governo da igreja de Cristo desde o início foi democrático (v.3): “...Escolhei pois, irmãos dentre vós, sete varões...”.

Porém alguns requisitos ou qualificações foram estabelecidas pelos apóstolos e ao povo coube examinar a congregação e descobrir quem dentre eles preenchia tais exigências. Os requisitos exigidos para ser diácono são os seguintes: Homens de boa reputação, Homens cheios do Espírito Santo, Homens cheios de sabedoria Essa decisão conforme At 6.5 agradou a todos, colocando assim um ponto final à murmuração a respeito do assunto. Embora a maioria dos crentes da época fossem de fala hebraica, vemos claramente a obra do Espírito Santo de Deus em seus corações ao escolherem os sete homens dentre os helenistas que formavam a minoria. Os eleitos foram: Estevão, (palavra grega para “coroa ou laurel de vencedor”), homem cheio de fé e do Espírito Santo; Felipe (palavra grega para “Amante de cavalos”); Prócoro Nicanor; Timão; Pármenas e Nicolau, prosélito (gentio convertido ao judaísmo) de Antioquia (da Síria). Ao eleger diáconos dentre os de fala grega para cuidarem da administração do fundo aos necessitados de ambos os grupos, nenhuma queixa mais podia ser apresentada pelos helenistas; e o Espírito Santo derrubou assim a primeira barreira que se levantou dentro da igreja. Como resultado dessa organização a igreja continuava crescendo, tendo inclusive entre os que engrossavam suas fileiras, um grande número de sacerdotes judeus. Nota: Helenistas - Judeus nascidos fora da Palestina que não conheciam bem o hebraico e, normalmente, falavam grego. As viúvas - Por serem mulheres, pobres e idosas conforme a cultura oriental, não podiam arranjar emprego. Não era raro naquela época, especialmente entre os gentios, viúvas morrerem de fome. A lei de Moisés mostra o cuidado especial de Deus, para com as viúvas e outras pessoas que não tinham ninguém para ajudá-las. (Ex 22.22-24; Dt 10.18) ver também I Tm 5.3-16.

5.4.8          O primeiro martírio

5.4.8.1         Prisão e acusação de Estevão

Estevão foi a primeira pessoa mencionada, que não sendo apóstolo, operava milagres em nome de Jesus. O fato de ter sido escolhido para uma função rotineira não limitou seu ministério. Ao observar a obra sobrenatural que o Espírito realizava por intermédio de Estevão, a oposição logo se levantou. Desta vez ela veio dos judeus de fala grega que, como Estevão, tinha vindo morar em Jerusalém. Eles tinham sua própria Sinagogas e incluíam judeus, chamados libertinos (os quais eram judeus libertados, provavelmente levados como escravos para Roma e posteriormente libertados por seus senhores romanos). Alguns eram cirineus (de Cirene) e alexandrinos (de Alexandria, no Egito). Outros eram da Cilícia (província natal de Paulo) e da província da Ásia (ao oeste da Ásia Menor).

Vivendo como viviam, cercados de gentios, enfrentavam muitas ameaças ao seu ensino. Por isso eram apressados em defender-se contra algo diferente daquilo que seus rabis lhes ensinavam. Embora procurassem discutir (ou debater) com Estevão eles não tinham a força nem poder para fazer frente à sabedoria e espírito com que ele falava (Lc 21.15). Por isso todos os seus argumentos caíram por terra. Decidiram então pôr um paradeiro a Estevão e, para isso, subornaram homens que dissessem ter ouvido Estevão proferir palavras blasfemas (injuriosas, insultuosas) contra Moisés e contra Deus. Jesus também foi acusado de blasfêmia.

Com o apoio dos anciãos e escribas (peritos na lei) e ainda do povo que eles conseguiram excitar investiram contra Estevão (repentinamente) e o levaram (com violência) ao sinédrio.

As falsas testemunhas que conseguiram, desvirtuavam as palavras proferidas por Estevão colocando-as sob a pior luz possível. Estes disseram que Estevão não cessava de proferir palavras contra este santo lugar (o templo) e contra a lei (de Moisés).

Diante destas e muitas outras mentiras, os que estavam no sinédrio fitaram os olhos nele e viram o seu rosto como rosto de um anjo. Isto significa que seu rosto possuía um brilho que vinha do céu. É possível que fosse semelhante ao caso de Moisés, quando ele desceu da presença de deus, ou como Jesus quando foi transfigurado.

Se fosse real o fato de Estevão estar falando contra Moisés, como Deus permitiria que seu rosto brilhasse à semelhança do mesmo?

5.4.8.2         A defesa de Estevão

O sumo sacerdote (provavelmente Caifás) deu a Estevão a oportunidade de responder as acusações perguntando se tais coisas eram assim . Depois de certamente dirigir-se ao Sinédrio, Estevão começou um retrospecto da história de Israel. Era este o melhor argumento porque não havia outro método para ganhar a atenção dos seus ouvintes judaicos prontos a investir contra ele. Seu objetivo era defender o Evangelho das falsas acusações e traçar um paralelo entre o modo pelo qual os judeus do antigo Testamento tratavam seus profetas e o modo pelo qual os líderes dos judeus trataram Jesus.

Tendo a oportunidade de defender-se, Estevão esqueceu-se do perigo que corria, mas pregou para a salvação dos seus perseguidores.

Podemos observar em seu discurso o notável conhecimento das Escrituras, “manejava bem a palavra da verdade”, pois os que estão cheios do Espírito Santo, estão cheios também da Palavra, sendo poderosos nas Escrituras.

5.4.8.3         A morte de Estevão

As palavras com que Estevão findou seu discurso (um verdadeiro resumo da história do Velho Testamento) serviram para descobrir uma profunda corrupção de seus perseguidores (ler capítulo 7.51-53). Este censura enfureceu aos membros do Sinédrio e estes rangeram os dentes contra Estevão. Com esta expressão de raiva, eles somente provaram que estavam realmente resistindo ao Espírito Santo. Em contraste com eles, Estevão, cheio do Espírito Santo, fitou o olhar no céu e viu a glória de Deus e Jesus em pé, à direita de Deus (no lugar de autoridade).

Ouvindo a declaração de Estevão de estar vendo Jesus, os membros do sinédrio gritaram e taparam os ouvidos para não ouvir as palavras de Estevão, e levando-o para fora da cidade o apedrejaram. Conforme Dt 17.7, as testemunhas é que deveriam atirar a primeira pedra. Para sentirem-se mais livres para apedrejaram, as testemunhas tiraram suas vestes externas que as incomodavam impedindo os movimentos; e as depositaram aos pés de um jovem chamado Saulo, testemunha ocular da morte de Estevão. Provavelmente Saulo havia presenciado também a pregação de Estevão.

Muito semelhante ao gesto de Jesus (Lc 23.34), Estevão, enquanto estava sendo apedrejado, invocou a Deus dizendo: “Senhor Jesus, recebe o meu Espírito”. Ajoelhando-se ainda, clamou sem grande voz: “Senhor não lhes impute este pecado”. Ao dizer isto foi atingido por uma pedra mortal, e “Adormeceu”.

Com o martírio de Estevão findou a primeira etapa da missão da igreja primitiva, a de pregar o Evangelho em Jerusalém (Cap. 1.8). Foi somente com a grande perseguição contra a igreja (8.1) que obedeceram a ordem divina de serem testemunhas “em toda Judéia e Samaria”.

“...e Saulo consentia”. (v1). A palavra “consentia” traduzida dá a entender que não apenas apoiava o ato, mas se regozijava em ver um membro da desprezada “seita” morrer. O Jovem Saulo nunca se esqueceu desta cena, pois longos anos depois fez menção dela (At 22.19-20). A partir de então as autoridades ficaram determinadas a matar até acabar com a “seita”. Grande multidão fugiu de Jerusalém abandonando seus lares, e foi esparramada por toda parte. Depois de mencionar quase “três mil” membros (2.41) e “cinco mil”(4.4) diz ainda que o número “crescia cada vez mais”(5.14), e por fim, que “se multiplicava muito o número”. Estevão foi enterrado por alguns varões piedosos e sobre ele fizeram grande pranto. Julgando estar fazendo um bom serviço a Deus (At 26.9-11; Fp 3.4-6) “Saulo assolava a igreja... arrastando homens e mulheres”.

Isto lhe dava grande prazer, mas depois tornou-se motivo de grande remorso (I Co 15.9; I Tm 1.12-13).

6.         O Testemunho em Samaria e na Judéia - (Cap. 8.4 a 12.25)

6.1          A pregação de Filipe - (Cap. 8.4-40)

O grande vento de perseguição em Jerusalém, dispersou por toda a parte a boa semente do reino de Deus, a qual nasceu produzindo uma gloriosa colheita de almas. (o sangue dos mártires é a semente da igreja).

6.1.1          O evangelho em Samaria

o evangelho agora era anunciado por toda parte. Por certo o que aconteceu em Samaria não era de maior importância do que acontecera em outros lugares, mas Lucas escolheu como exemplo a evangelização em Samaria por Felipe, o diácono, por dois motivos importantes. Primeiro porque baseado nas palavras de Atos 1.8, Samaria estava incluída como a região seguinte na ordem da comissão dada. Segundo pelo fato de que Samaria era importante, também porque outra barreira foi derrubada ali pelo Espírito Santo. Os Samaritanos eram descendentes de judeus (os que haviam se separado com as dez tribos do norte) e se haviam casado com pessoas trazidas pelos assírios depois de Samaria ter sido conquistada.

Construíram um templo no monte Gerizim e adoravam ao Senhor e mais outros deuses. Cerca de 100 anos a.C. os judeus destruíram esse templo forçando os samaritanos a abandonarem a idolatria. Nos dias do Novo Testamento os samaritanos seguiam a lei de Moisés a semelhança dos judeus, mas diziam que os sacrifícios deviam ser oferecidos no monte Gerizim em vez de em Jerusalém.

Os judeus evitavam ir à Samaria sempre que possível. Assim Felipe precisou de coragem para ir até lá.

Começou a anunciar-lhes a Cristo, mas juntamente com a pregação havia também a demonstração de poder através dos sinais que fazia curando os enfermos e expulsando os demônios. A multidão prestava atenção às suas palavras e havia grande alegria naquela cidade como resultado da saúde física recebida e da salvação de almas.

6.1.1.1         Simão, o mágico

Havia em Samaria um certo mágico chamado Simão, e este iludia o povo que o considerava como um “grande personagem” e devido as suas habilidades mágicas, todos, do menor até o maior, diziam: “Este é o poder de Deus, que se chama grande”.

O povo passou a ver em Felipe alo digno de muito mais admiração: O evangelho que ele pregava dando ênfase ao domínio e poder de Deus através de Cristo, e tanto homens como mulheres creram e foram batizados. Por fim o próprio Simão creu e foi batizado, ficando então de contínuo com Felipe. Passou a observar os milagres realizados por Felipe, com o olho profissional de um mágico e pode perceber eram muito diferente dos truques mágicos que ele próprio executava. Eram reais. Alguns têm posto em dúvida se Simão creu verdadeiramente. Mas a Bíblia diz que sim (8.13) e, de modo algum, restringe a afirmativa, além disso Felipe, homem guiado pelo Espírito Santo, na certa não o teria batizado, não demonstrasse ele ser um verdadeiro crente.

6.1.1.2         Pedro e João em Samaria

A notícia do sucesso do Evangelho em Samaria chegou até Jerusalém e os apóstolos enviaram para lá Pedro e João com o propósito de ajudar a Felipe e encorajar os novos crentes. Não há nisso nenhuma indicação de que considerassem o ministério de Felipe inferior ou deficiente. A primeira coisa que fizeram quando chegaram foi orar para que os samaritanos recebessem o batismo no Espírito Santo, pois apesar de já terem sido batizados nas águas, eles não tinham passado pela experiência do derramamento do Espírito, com a evidência de falar em outras línguas como os crentes no dia de Pentecostes. Assim que Pedro e João oraram e impuseram as mãos sobre eles, Deus confirmou sua fé e receberam o Espírito.

Simão quando viu que, pela imposição das mãos dos apóstolos o Espírito Santo era dado, não apresentou para recebê-lo. Em vez disso, recaiu na velha ambição e ofereceu-lhes dinheiro para impor as mãos sobre o povo com o mesmo resultado.

Nota: Essa atitude de Simão originou a palavra Simonia para designar o pecado cometido quando alguém tenta oferecer dinheiro para comprar coisas espirituais, cargos ou posição na igreja.

Pedro censurou severamente a Simão, no entanto Pedro também mostrou que o caso de Simão não era inteiramente sem esperança, exortando-o a arrepender-se dessa sua maldade e a orar a Deus para que porventura o propósito do seu coração pudesse ser perdoado. Deus sempre perdoa graciosamente aqueles que confessam seu pecado (I Jo 1.9).

Existe enorme controvérsia acerca do que aconteceu a Simão. Alguns sugerem que ele queria oração só por medo do castigo divino. Mas o texto indica que ele queria que os apóstolos orassem juntamente com ele. Isto indica mudança de atitude, e portanto, arrependimento. A Bíblia nada mais diz a respeito dele.

Pedro e João continuaram em Samaria por mais algum tempo testemunhando da Palavra de Deus. Na volta pregaram em muitas aldeias dos samaritanos. Grande é o poder do Espírito Santo para transformar a vida dos crentes como se vê no caso de João. Este “Filho do Trovão”(Mc 3.17) antes queria chamar fogo dos céus para consumir os samaritanos. Mas depois do seu batismo no Espírito Santo, anunciava-lhes a gloriosa nova de perdão de seus pecados, pela palavra de Deus.

6.1.2          A conversão de um etíope

Quando Felipe estava plenamente envolvido na cena de grande avivamento em Samaria, o Senhor mandou um anjo falar-lhe que deveria seguir ao sul, no caminho que descia de Jerusalém para Gaza, caminho este que estava deserto. Notamos aqui o contraste entre a multidão de Samaria e o deserto do caminho de Gaza. Quando o anjo falou Felipe não hesitou, mas levantou-se e foi obedientemente.

A expressão “eis que” (8.27) indica uma coisa repentina, inesperada, portanto podemos entender que no momento exato em que ele alcançava a estrada de Gaza aproximava-se o carro de um eunuco-etíope. Muitos funcionários dos palácios nos tempos antigos eram eunucos.

Nota: Eunuco: Um homem castrado. Grande número de autores antigos testifica sobre esta prática brutal, em várias regiões do mundo antigo. Josefo revela que as cortes de Herodes eram frequentemente servidas por eunucos, e também é verdade que os reis de Judá  e Israel, copiando os seus vizinhos pagãos, empregavam os serviços de eunucos em seus haréns reais (ver II Rs 9.32 e Jr 41.16). A lei de Moisés  (ver Dt 23.1) excluía os eunucos do culto público, provavelmente porque esta e outras práticas que envolvem mutilações, eram praticadas no paganismo como parte da reverência prestada aos deuses pagãos. O evangelho de Cristo, entretanto, rejeita a todos estes preceitos e limitações, conforme fica bem ilustrado nesta narrativa.

Aquele era um alto funcionário, pode ser comparado ao ministro da fazenda, mas com plena autonomia para cuidar dos fundos públicos e das despesas por conta destes fundos. “Candace” era um título como o título “faraó”. Todas as rainhas desta dinastia chamavam-se Candace e reinavam em Moroe, ilha com a sede do governo no rio Nilo. A Etiópia aqui referida corresponde ao que se chama Sudão, embora possa ter incluído parte da moderna Etiópia. A palavra Etiópia quer dizer “rosto torrado”, isto é, pelo sol. Os etíopes eram morenos, mas não negros. Provavelmente este eunuco era um prosélito do judaísmo, e tinha vindo de longa distância para adorar em Jerusalém. Por ser eunuco, entretanto, ele podia ir só até o pátio dos gentios. Mesmo assim comprou livros (rolos) do Antigo Testamento para levá-los na volta consigo.

Ao voltar para seu país, o eunuco estava lendo o livro de Isaías. Espírito Santo a esta altura orientou Felipe para se aproximar do carro e juntar-se a ele. Correndo ao lado do carro, Felipe pode ouvir a leitura que o eunuco fazia em voz alta (hábito frequente naqueles dias). Felipe então perguntou-lhe se ele estava entendendo o que lia. Pela resposta do etíope Felipe pode perceber o desejo deste de que alguém se sentasse com ele para ensinar (v 31). Felipe não precisou de um segundo convite. O eunuco estava lendo Isaías 53.7-8 e a sua dúvida era se o profeta estava falando de si mesmo ou de algum outro. Esta  foi a grande oportunidade de Felipe que começando por aquela passagem anunciou o Evangelho ao etíope. Rodando pela estrada o próprio eunuco percebeu que havia água naquele lugar e pediu para ser batizado. A única condição dada por Felipe para o batismo foi “crer de todo o coração”. Felipe obteve do eunuco uma profissão de fé e em seguida, diz o texto que ambos desceram à água. Muitas outras passagens deixam claro que imersão era a prática da igreja primitiva. Depois que saíram da água o Espírito arrebatou Felipe, e o eunuco não o viu mais, e seguiu jubiloso o seu caminho. Indubitavelmente ele espalhou o Evangelho em seu próprio país. A gloriosa profecia acerca da Etiópia estender para Deus as suas mãos (Sl 68.31) tinha cumprimento parcial na salvação do etíope. Felipe veio achar-se em Azoto, e passando além evangelizava todas as cidades até chegar em Cesaréia.

Nota: Essa Cesaréia fica às margens do Mediterrâneo, 88 Km à noroeste de Jerusalém e não deve ser confundida com a Cesaréia de Filipe muito mais para o interior do continente, ao pé do monte, perto da cabeceira do rio Jordão.

6.2          A conversão de Saulo e seus primeiros trabalhos - (Cap. 9.1-30)

O Evangelho já havia sido divulgado por toda Jerusalém, assim como por toda Judéia e Samaria, por meio dos outros apóstolos. Este era então o momento certo escolhido pelo Senhor para a conversão de Saulo, pois para espalhar as boas novas “até os confins da terra” era necessário alguém que além de conhecer os costumes judaicos e sua religião conhecesse também um pouco da vida grega e dominasse bem seu idioma.

Além disso era necessário que este alguém tivesse facilidade de acesso às lideranças daquela época. Para esta tarefa ninguém melhor do que Saulo, devido à sua naturalidade, cultura, posição social, inteligência e espírito de liderança.

A conversão de Saulo de Tarso, o vulto que se tornou o universalmente conhecido como apóstolo Paulo, é um dos eventos da mais alta importância na história da igreja, e assim, do mundo. Julga-se tão importante sua conversão, com razão, pelo fato desse evento ser narrado três vezes em Atos  dos apóstolos: a primeira vez escrito por Lucas para nós (cap. 9). A segunda vez contada pelo apóstolo Paulo aos judeus na cidade de Jerusalém (cap. 22). A terceira vez narrado pelo apóstolo perante as autoridades romanas (cap. 26).

Saulo, ou Paulo, o apóstolo, era cidadão romano nascido em Tarso (At 22.3), célebre, o Cidmo, da Cilicia. Essa metrópole situada a beira dum rio navegável, o Cidmo, e nos desfiladeiros que davam entrada a Cilicia e a Síria, ocupava lugar importante no mundo comercial.

No tempo do apóstolo a cidade de Tarso era famosa, também como uma sede de cultura grega, quase igual a de Atenas e a de Alexandria. Saulo cursou primeiramente em Tarso, adquirindo os seus conhecimentos dos costumes e da língua dos gregos que lhe servia tão praticamente em sua obra de apóstolo.

De Tarso foi enviado a Jerusalém para estudar aos pés de Gamaliel (At 22.3), fariseu eminente. Sendo fariseu, toda a sua vida foi moldada pelas crenças peculiares a esta seita (ver Gl 1.14; At 26.4-5; Fil 3.6). conforme o costume dos judeus, que todos os filhos fossem instruídos em uma profissão para ganhar o pão cotidiano e para evitar a ociosidade, o moço foi preparado também na arte de fazer tendas. Que esta instrução lhe servia muito bem vê-se em Atos 18.3; 20.34; I Ts 2.9. Saulo era de pura descendência judaica, um “hebreu dos hebreus” (Fil 3.5), isto é, seus pais eram judeus natos. Era também da “tribo de Benjamim” (Fil 3.5), a tribo que aderiu a Judá, quando as dez tribos se afastaram de Deus e se separaram das restantes . Nunca houve, talvez, quem confiasse tanto na sua justiça  própria como Saulo de Tarso (Fl 3.4-9). Contudo era o principal dos pecadores (I Tm 1.15), o mais violento inimigo de Jesus Cristo, que assolava e devastava a sua igreja (At 8.3; 9.1-2; 22.4; 26.9-11). Saulo no tempo da sua conversão contava talvez 30 anos de idade. Era membro do Sinédrio o supremo tribunal de Jerusalém.

Nota:

a.       Anos de idade - devido a dignidade da posição que ocupava, embora At 7.58 use o termo “mancebo”, supõe-se que tivesse ao menos 30 anos de idade.

b.      Membro do sinédrio - deduz-se que era membro do sinédrio pela posição que ocupava entre judeus (Gl 1.14), pela maneira como participou do apedrejamento de Estevão (At 22.20).

c.       O versículo 1 do capítulo 9 é uma continuação da narração do capítulo 8, versículo 3. Saulo na sua ira contra os discípulos de Cristo respirava ameaças e mortes como os reputados dragões das fábulas respiram fogo com cartas do sinédrio, e acompanhado pela polícia do templo, Saulo viajou para Damasco, mais de 200 Km de Jerusalém, onde esperava aniquilar totalmente a obra de Cristo. Visto que o governador de Damasco era amigo do sumo Sacerdote, ele achou que seria fácil esta vitória (II Cor 11.32). As vítimas que Saulo esperava destruir em Damasco eram, talvez, discípulos que fugiram da perseguição em Jerusalém (cap. 8.11).

d.      Apesar de Saulo ter o pensamento de que os homens são, por natureza, superiores às mulheres, reconhecia que entre os discípulos de Cristo devia temer tanto as mulheres como os homens. Na igreja primitiva as mulheres eram destacadas na oração, em serviços, em caridade, no ministério do Espírito  Santo em instruir o próximo (Cap. 18.26) e em martírio. Tal era o ardor de Saulo em perseguir os cristãos que viajava incansavelmente (a Bíblia não menciona se a pé ou a cavalo) com seu grupo durante as horas de maior calor, quando os outros viajantes descansavam. Como um raio de relâmpago, o “holofote de Deus” atingiu este persistente perseguidor, tornando-o desde aquele instante um “prisioneiro de Jesus Cristo” (Fil 1). Em língua hebraica, ou mais propriamente em aramaico, a língua que Jesus falava na terra, foi que o Senhor lhe falou: “Saulo, Saulo...” com profunda ternura e compaixão (compare “Abraão, Abraão”, Gn 22.11; “Jacó, Jacó” Gn 46.2; “Moisés, Moisés” Ex 3.4; “Marta, Marta” Lc 10.41.

e.        “Por que me persegues?’ (v4) - O grande Saulo de Tarso, instruído e cheio de si teve que saber que não perseguia o Filho do Deus Altíssimo! Saulo não sabendo se quem lhe falava era um anjo ou Deus mesmo, confuso perguntou: “Quem és tu, Senhor?” a resposta não foi “O Cristo”, nem “O filho de Deus”, porém o nome que Saulo mais odiava: “Eu sou Jesus”. Quanto mais Saulo lutava nas suas inevitáveis convicções, tanto mais sentia as aguilhoadas de Deus na sua consciência. Quando Saulo levantou-se do chão percebeu que estava cego, mas conforme instrução do próprio Jesus, guiado pelas mãos de seus companheiros foi conduzido a Damasco, à rua chamada Direita, na casa de Judas um discípulo, onde permaneceu por três dias, ainda cego. E nada comeu e nem bebeu.

O senhor em visão enviou Ananias para que orasse por Saulo para que ele recuperasse a visão. Também Saulo estava orando e em visão viu que Ananias entrava e orava por ele com imposição de mãos.

Ananias a princípio fez objeção, pois já havia ouvido a respeito das coisas más que Saulo fazia aos cristãos em Jerusalém. O Senhor, porém, insistiu com Ananias dizendo ser Saulo um vaso escolhido para levar seu nome perante os gentios (as nações), perante reis e os filhos de Israel (povo judeu). Além disso, o próprio Jesus disse que mostraria a Saulo o quanto lhe seria necessário sofrer pelo seu nome. Então Ananias obedeceu, entrou na casa e impôs as mãos sobre Saulo, chamando-o de irmão. Saulo fora a Damasco com o intento de por as mãos violentas sobre os discípulos, mas aconteceu que um discípulo pôs as mãos cheias de bênçãos sobre ele. Reconhecia deste modo que Saulo agora era um crente. Ananias contou-lhe que o Senhor o enviara por duas razões. À primeira era para que recuperasse sua vista; a segunda que ele pudesse ser cheio do Espírito Santo. Imediatamente como que escamas caíram de seus olhos e ele pode ver de novo. Levantou-se e foi batizado. Então ele deu por encerrado o seu jejum, alimentou-se e ficou fortalecido.

6.3          Saulo prega em Damasco

Depois disso permaneceu alguns dias com os discípulos em Damasco. Aquele que era antes um inimigo de Jesus, se tornou grande proclamador da sua graça. Não se envergonhava de seu Evangelho (Rm 1.16). Morrera Saulo o perseguidor, ressuscitara Paulo o pregador, vivificado da morte. O leão se convertera em cordeiro; o formalismo frio em chama de fogo santo. Saulo se enchia cada vez mais de poder. Não somente pregava a Jesus mas também provava que Jesus é o Cristo, o Messias, o Ungido, isto é, ungido de poder. (At 10.38).

“E tendo passado muitos dias...” (v. 23): durante o tempo entre a conversão de Saulo e a sua volta a Jerusalém houve um período de três anos (Gl 1.15-18). Durante este tempo “esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco”(At 9.19).

Mas consta que o recém convertido foi ao deserto da Arábia (Gl 1.16-17), onde parece que passou ao menos dois anos em comunhão com Deus. Foi a sós neste deserto que Saulo de Tarso se preparou para cumprir tão fielmente a sua comissão de levar o Evangelho aos gentios.

Como fora com Estevão, assim foi com Saulo. No caso de Estevão, os judeus “não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava”. Acerca de Saulo diz que “confundia os judeus...”(v. 22). Assim os judeus em Damasco determinaram matar a Saulo como mataram a Estevão. Quanto mais Saulo se revestia de poder, mais os inimigos da cruz se revestiam de ódio. Dia e noite eles vigiavam as portas da cidade com o propósito de matá-lo; porém sua conspiração foi descoberta e frustada pelos discípulos de Cristo que ajudaram Saulo fugir, fazendo-o descer pelo muro num grande cesto. Em II Co 11.33, Saulo acrescenta que foi por uma janela (casas construídas com uma parte sobre o muro ainda podem ser vistas hoje na cidade de Damasco).

6.4          Saulo vai a Jerusalém

Ao voltar a Jerusalém, Saulo não procurou aos principais sacerdotes e aos fariseus, dos quais se despedira ao partir para perseguir aos cristãos em Damasco, porém procurava ajuntar-se aos discípulos. Todos os discípulos porém o temiam pois conheciam bem a sua fama de perseguidor. Então Barnabé, este “filho da consolação” destacado no Novo Testamento como discípulo dedicado em servir e encorajar seus companheiros de lutas, simpatizou-se com Saulo e tomando-o consigo levou-o aos apóstolos e explicou que ele vira ao senhor e que falava ousadamente em damasco. Evidentemente antes de fazer tal apresentação, Barnabé deve ter feito algumas investigações, descobrindo todos os detalhes.

Bendito é o ministério do Senhor de assim servir um crente mal entendo pelos irmãos.

Por algum tempo Paulo esteve junto aos crentes entrando e saindo em Jerusalém. Continuava a pregar a Cristo com ousadia, mas a maior parte do tempo gastava discutindo com os helenistas (judeus de fala grega). Contudo não visitou as igrejas da Judéia, fora de Jerusalém, pois (em Gl 1.22) fala mais tarde que “não era conhecido de vista por eles”.

Também em Jerusalém os Judeus se irritaram com Saulo e tramavam matá-lo. Os discípulos ao descobrirem suas intenções encaminharam Saulo até Cesaréia e de lá o enviaram para Tarso. Saulo não estava fazendo covardemente, mas recebera do próprio Jesus a instrução para sair de Jerusalém (At 22.17-21). Em Tarso, Saulo representava seus irmãos cristãos, anunciando o Evangelho aos seus conterrâneos.

7.         As viagens de Pedro - (Cap.  9.31-43)

7.1          A cura de Enéas - Lida

Com a partida de Saulo tudo se acalmou novamente e a paz voltou reinar sobre a igreja e em toda a Judéia, Galiléia e Samaria, e esta com o auxílio do Espírito Santo se multiplicava.

Como Jerusalém estava em condições pacíficas, Pedro agora podia deixar a cidade. Assim começou ele a visitar região mencionada acima. Enquanto viajava desceu para visitar os crentes que viviam em Lida (na estrada para Jope) . Nesta cidade um paralítico chamado Enéas  jazia há oito anos na cama. Pedro encontrando-o, ordenou-lhe que as levantasse e fizesse sua cama pois Jesus Cristo lhe daria saúde. Sua cura foi instantânea e como resultado todos os habitantes, tanto de Lida como de Sarona (região circunvizinha) se converteram ao Senhor.

Nota: Os crentes existentes em Lida com certeza eram frutos do evangelismo realizado por Filipe.

A expressão: “Levanta-te e faze  tua cama” significava que ao doente curado não lhe convinha nem pensar em deitar-se novamente, mas deveria comportar-se como uma pessoa curada.

7.2          A ressurreição de Dorcas em Jope

Dorcas (que significa gazela, um antílope gracioso) era conhecida também por Tabita, seu nome aramaico. Ela era cheia de boas obras, especialmente em favor das viúvas pobres e órfãos de Jope. Tendo adoecido veio a falecer.

Jope, cidade da costa mediterrânea ficava de dezesseis quilômetros de Lida, portanto dois homens foram até lá buscar Pedro enquanto preparavam o corpo da falecida, colocando-o no cenáculo. Foi uma viagem de três horas a pé.

Quando Pedro chegou, todas as viúvas estavam rodeando o corpo à sua espera, e chorando lhe mostravam as túnicas e roupas que Dorcas lhes fizera. Pedro fora chamado não para assistir ao enterro mas para evitá-lo Era demasiado tarde para chamar um médico, mas não para chamar um homem cheio do Espírito Santo.

Por causa da atitude de desalento daquelas viúvas, Pedro as fez sair da sala. Pedro estava com Jesus por ocasião da ressurreição da filha de Jairo, e aprendeu com Ele que uma atmosfera de descrença não leva a fé que vê milagres. Jesus  também havia mandado que as pranteadoras se retirassem. Pedro dedicou algum tempo a oração e em seguida voltou se com fé para o corpo morto e disse em alta voz: “Tabita, levanta-se” (v. 40). Pedro falou esta frase aos ouvidos mortos de Dorcas, ergueu-a  pela mão, até então morta, e então apresentou-a viva aos que choravam, e ela voltou a servi-los como de costume.

Este milagre fez com que muitos outros abraçassem a Cristo. Pedro então permaneceu em Jope muitos dias na casa de Simão, o curtidor.

Nota: Curtidor - Esta profissão era considerada por muitos como uma profissão imunda, devido ao constante contato com animais mortos.

7.3          O evangelho chega aos gentios. Cornélio é recebido na igreja - (Cap. 10.1 a 11.18)

Os capítulos 10 e 11 levam-nos a um dos pontos mais importantes do livro de Atos. Embora Jesus comissionasse os apóstolos para ensinarem (fazerem discípulos) de todas as nações (Mt 28.19), eles não estavam ansiosos por fazê-lo. Os que foram dispersos pela perseguição após a morte de Estevão, primeiro pregaram o Evangelho somente aos judeus (At 11.19). Era evidente que eles entendiam “todas as nações” significando os judeus dispersos entre todas as nações. Foi claro desde o princípio da igreja que ser convertido a Cristo e mesmo ser batizado no Espírito Santo não removia automaticamente os preceitos que cresceram com as pessoas. Pedro havia feito algum progresso: ele aceitava a obra do Senhor na Salvação dos samaritanos. Mas eles eram circuncidados e guardavam a lei quase tão bem  como os judeus. Ele também estava disposto a morar na casa de um curtidor “imundo” que era crente.

Entretanto ele ainda não havia enfrentado as barreiras maiores. Muitas leis e costumes separavam os judeus dos gentios, especialmente as leis dietéticas. Judeu algum comeria alimento preparado por um gentio porque acreditava que isso também o faria imundo.

7.3.1          Cornélio manda chamar a Pedro

Cesaréia ficava cerca de 48 Km ao norte de Jope. Era a capital da Judéia sob o comando dos procuradores romanos. Nesta cidade Roma aquartelou um corpo (coorte) de soldados, conhecido como coorte italiana. Um deles, Cornélio, era centurião tendo cem soldados de infantaria sob seu comando. Em autoridade e responsabilidade poderia ser comparado a um capitão do exército moderno.

Alguns gentios daqueles dias andavam decepcionados e cansados das religiões de Roma e da Grécia, que nada podiam oferecer a não ser idolatria e imoralidade. Por isso muitos, e entre eles Cornélio, achavam algo melhor nos ensinamentos das sinagogas e aceitavam a verdade da existência de um só Deus verdadeiro. Cornélio era reto em suas atitudes para com Deus e para com os homens e, pela graça, levava uma vida piedosa. Ele com toda sua casa (família e servos) temia a Deus. Por sua influência todos eles frequentavam a sinagoga, assentavam-se na parte de trás, ouviam o ensino e criam em Deus. Entretanto não se tornaram prosélitos. Consequentemente não tinham aceitado a circuncisão e não guardavam as leis dietéticas. Mas Cornélio, conforme Lucas afirma, era piedoso, temente a Deus, e fazia caridade às pessoas, e orava a Deus em todas as circunstâncias (de contínuo - v. 2).

Pelo versículo 37 deste capítulo podemos observar que Cornélio era conhecedor do Evangelho de Cristo, mas talvez pensasse que para torna-se cristão precisaria primeiro tornar-se judeu. É bem possível que nesta ocasião estivesse cogitando em dar o primeiro passo.

Deus viu o desejo do seu coração, e cerca de três horas da tarde, hora judaica de oração, ele estava orando e jejuando (v. 30). Um anjo veio e se apresentou a ele. Não era uma visão, mas algo real pois diz a palavra “O anjo se retirou”.  Como reação humana diante de algo sobrenatural Cornélio ficou atemorizado, mas mesmo assim perguntou: “Que é Senhor”. O anjo primeiramente lhe faz saber que suas orações e esmolas estavam diante de Deus como um memorial (lembrete) e em seguida orientou-lhe para que enviasse homens a Jope, à procura de Simão Pedro na casa de Simão, o curtidor, e Pedro lhe diria o que é necessário fazer.

Assim que o anjo se retirou, Cornélio chamou dois de seus escravos domésticos e um soldado (todos tementes a Deus), explicou-lhes detalhadamente o ocorrido e os enviou em busca de Pedro, a Jope.

7.3.2          A visão de Pedro

Deus opera sempre nos dois extremos da linha. No dia seguinte, quase ao meio dia, os três homens aproximavam-se de Jope. Era a hora de Deus preparar a Pedro para o encontro.

O meio-dia também era considerado pelos judeus hora de oração. Pedro subiu ao eirado da casa para orar, mas sentindo fome pediu que lhe preparassem alimento. Enquanto esperava “sobreveio-lhe um êxtase” e viu o céu aberto e um objeto descendo como se fosse um grande lençol sendo baixado pelas quatro pontas, e estava cheio de quadrúpedes, répteis, aves do céu de todas as espécies, e uma vez lhe ordenou: “levanta-te Pedro, mata e come!

Pedro já conhecia a voz do Senhor, mas devido aos seus fortes preconceitos teve dificuldades em obedecer. Respondeu: “de modo nenhum, Senhor!” pois era algo que ele nunca havia feito, era uma ordem estranha Deus lhe haver ordenado comer algo que para ele era considerado comum (profano) e imundo.

A voz replicou: “Não chames tu comum ou imundo ao que Deus purificou”. Para fixar algo na mente preconceituosa de Pedro, Deus fez questão de enfatizar o fato, repetindo por três vezes o ato. Pelo seu discernimento espiritual Pedro Sabia que aquela visão tinha algum significado espiritual, mas como ainda não soubesse qual era esse significado, ficou perplexo.

Enquanto Pedro pensava no que poderia significar aquilo, os três homens enviados por Cornélio chegaram. O Espírito Santo falou a Pedro que três homens estavam a sua procura. Ele deveria descer as escadas e ir com eles sem nenhuma hesitação.

7.3.3          O encontro

Os mensageiros de Cornélio foram hospedados ali em Jope por aquela noite na casa do curtidor. No dia seguinte Pedro partiu com eles, mas teve o cuidado de levar consigo mais seis bons irmãos judeus crentes (ver At 11.12). Pedro estava certo de que, por dirigir-se a casa de um gentio, seria chamado à ordem e precisaria de algumas testemunhas a seu favor. Cornélio o aguardava ansioso e já havia convidado todos os seus parentes e amigos íntimos, pois cria no Senhor que algo de maravilhoso aconteceria e queria que os outros participassem. Conforme Cornélio havia calculado e estava a espera, Pedro com os outros chegaram no dia seguinte.

Pedro foi recebido por Cornélio de forma que o deixou provavelmente chocado. Cornélio prostrou-se aos seus pés e o adorou. Rapidamente Pedro o pegou pelo braço e o fez levantar-se dizendo-lhe enfaticamente que ele também era homem, um ser humano. Pedro não pretendia glória pessoal ou primazia na igreja. Ficou surpreso ao ver o auditório que o aguardava e começou seu discurso explicando que a lei como judeu era ilícito chegar-se a um estrangeiro. Mas Deus o havia enviado. Agora Pedro já compreendia o significado de sua visão. Ele não deveria considerar nenhum ser humano comum ou imundo e por isso viera sem contestar. Agora, entretanto, perguntava porque o haviam chamado. Em resposta Cornélio contou-lhe que a quatro dias atrás um anjo lhe havia orientado nesse sentido e que eles estavam satisfeitos por Pedro ter vindo. Todos ali estavam na presença de Deus para ouvir tudo quanto Deus tivesse instruído Pedro que lhes falasse.

7.3.4          A mensagem

O sermão de Pedro na casa de Cornélio constituiu um marco divisório na história da igreja primitiva. Desde o princípio mostra que agora compreendia plenamente o significado de sua visão repetida no eirado. Ele verificou que Deus verdadeiramente não faz acepção de pessoas, isto é, ele não mostrava favoritismo ou parcialidade. Em qualquer nação aquele que teme (adora, reverencia) a Deus e pratica o que é justo é aceitável  a ele.

Este vibrante sermão é aqui resumido para nós em poucas palavras. O tema, como no primeiro sermão de Pedro (Cap. 2.14-41), é a salvação pela fé. O sermão inclui o batismo de João, a obra de Jesus de Nazaré, libertando os oprimidos do diabo, a sua morte na cruz, sua ressurreição com incontestáveis provas, sua vinda novamente como juiz dos vivos e dos mortos, sua oferta de salvação a todos que crêem. Ao discurso não falta coisa alguma; tudo está completo e ardendo com o amor de Cristo.

7.3.5          O Espírito Santo desce sobre os gentios

“Dizendo Pedro, ainda estas palavras...”(v. 44) o Espírito Santo desceu sobre todos antes de o pregador conseguir fazer o apelo. “Todo o que nele crê, recebe remissão dos pecados”; os ouvintes sentiam grande fome e creram de todo coração, alma e força (Rm 10.17). O resultado foi que os corações foram purificados pela fé e foram batizados no Espírito Santo.

A lei exigia só duas ou três testemunhas (2 Co 13.1) mas Pedro havia levado seis. Toda dúvida fora tirada desses judeus e se maravilharam “Porque ouviram falar e magnificar a Deus” (v. 46). A palavra “porque” nesta passagem mostra que na igreja primitiva eles tinham o falar em línguas como a principal evidência do batismo no Espírito Santo.

Foram em seguida batizados nas águas, pois Pedro não pode recusar essa ordenança àqueles a quem o Senhor havia concedido seu Espírito.

7.3.6          A defesa de Pedro e o reconhecimento da igreja

A notícia sobre as almas que foram salvas e batizadas no Espírito Santo entre os gentios, chegou bem depressa aos ouvidos dos apóstolos e dos demais irmãos.

Quando Pedro chegou foi recebido pelos que eram da circuncisão (judeus prosélitos) com críticas severas por haver em casa de um incircunciso.

Pedro então começou sua auto defesa contando-lhes tudo o que havia acontecido em ordem, isto é, desde o momento em que tivera a visão em Jope. Ele foi cuidadoso também em apontar para as seis testemunhas que levara consigo à Cesaréia. O resultado foi apaziguamento dos descontentes que passaram a glorificar a Deus (v. 18).

8.         A missão de Barnabé - (Cap. 11.19-30)

Embora aceitando o fato de que com a salvação os gentios haviam passado a fazer parte da igreja, nem os apóstolos e nem os crentes de Jerusalém se preocuparam em anunciar o Evangelho a outros gentios.

Como não tivessem a menor pressa de ganhar almas dentre os gentios para o Senhor, Deus escolheu a perseguição (v. 19) como meio para tirá-los do comodismo.

Após  a dispersão ocasionada pela perseguição que sobreveio a Estevão, os pregadores avançaram pela costa da Ásia Menor indo até a Fenícia onde igrejas foram estabelecidas em Tiro e Sidom (At  21.3-4 e 27.3). Dali alguns foram para Chipre e outros continuaram para o norte até Antioquia.

Nota: Antioquia da Síria - não deve confundir esta cidade com Antioquia da Psídia (cap. 13.14). Antioquia da Síria está situada às margens do rio Orontes, cerca de 500 quilômetros ao norte de Jerusalém. Era  um grande centro comercial, a maior cidade da Ásia Menor e a capital da província romana da Síria.

Em Antioquia alguns destes discípulos começaram a anunciar as boas novas aos gregos (gentios de língua grega). Um grande número deles creu e se converteu ao Senhor.

O trabalho tomou vulto em Antioquia e a igreja em Jerusalém ao saber, enviou para ali o irmão Barnabé.

Barnabé julgou necessária a ação de Saulo e foi buscá-lo em Tarso da Cilícia. Esta dupla de mestres trabalhou com muito afinco durante um ano, sendo os líderes principais da igreja em Antioquia. Saulo havia permanecido nas regiões da Síria e Cilícia por mais de dez anos conforme At 9.30, Gl 1.21 e 2.1.

Em Antioquia os discípulos foram pela primeira vez chamados pelo nome “cristãos”. Até então o cristianismo havia sido considerado como uma seita do judaísmo, mas, como a partir de então os gentios constituíam a maioria nesta assembléia (e gentios incircuncisos), obviamente eles não podiam ser considerados judeus e precisavam de um nome que os identificasse. Cristãos foi o nome adotado.

No final do primeiro ano do ministério de Saulo em Antioquia vieram vários profetas de Jerusalém, pois as diversas assembléias de crentes mantinham um intercâmbio entre si. Entre estes profetas veio um chamado Ágabo que previu uma grande fome que se estenderia por todo o mundo, isto é, o império romano. Esta fome ocorreu nos dias de Cláudio César (D.C.41-54). Os discípulos da igreja de Antioquia decidiram contribuir de acordo com suas posses e enviar por intermédio de Saulo e Barnabé, um socorro aos irmãos da Judéia. Provavelmente estava sendo atingido pela fome.

9.         A perseguição de Herodes - Cap. 12

9.1          O martírio de Tiago - (Cap. 12.1-2)

Os procuradores romanos que governaram a Judéia do ano 6 até 41 não tinham sido muito populares, por isso, Herodes Agripa I, ao tornar-se rei da Judéia e Jerusalém, fez todo o possível para conquistar e manter a simpatia dos judeus.

Com o intuito de agradar aos judeus, prendeu alguns da igreja para os maltratar. Entre eles estava Tiago, o apóstolo, irmão de João e por ordem de Herodes foi assassinado à espada.

Nota: Herodes Agripa I - era neto de Herodes o Grande, que promovera a matança dos inocentes no tempo de Jesus, e sobrinho de Herodes Antipas que ordenara o assassinato de João Batista.

9.2          Prisão e Libertação de Pedro - (Cap. 12.3-19)

Como os judeus se mostraram felizes com a morte de Tiago, Herodes, para satisfazê-los  ainda mais, mandou que prendessem a Pedro, o mais ousado dos apóstolos.

Pedro foi detido sob a guarda de dezesseis soldados que se revezavam em grupos de quatro soldados cada. Durante as quatro vigílias, até que passassem os dias de Pães Asmos e a Páscoa.

A Igreja se manteve em oração por todos os dias, e no último dia de festa, o Senhor interviu libertando a Pedro por intermédio de um anjo. Ao chegar ao local da reunião de oração, em casa de Maria, mãe de Marcos, os crentes duvidavam da bênção que estavam recebendo e pela qual estavam orando. Contando rapidamente o sucedido, Pedro pediu comunicassem o fato a Tiago, líder da igreja em Jerusalém e partiram para outro lugar da Judéia.

Nota: Quaterno (v. 4) é um grupo de quatro soldados, portanto, para guardar Pedro, foram utilizados dezesseis soldados ao todo. A penalidade para um guarda que deixasse escapar um preso, segundo a lei romana, era a mesma punição que o fugitivo iria receber.

“É o seu anjo” (v. 15). Os judeus acreditavam que o anjo da guarda que cada um possuía poderia assumir a forma da pessoa que viesse a falecer.

9.3          A morte de Herodes - Cap. 12.20-24

Tiro e Sidom ficavam na Fenícia e pertenciam à Síria, portanto Herodes não tinha autoridade sobre tais cidades, porém de alguma maneira podia exercer pressão econômica sobre as mesmas.

Apesar de serem grandes centros comerciais, abasteciam-se de cereais, frutas e vinhos da Palestina. Foi por este motivo que lutaram para conseguir audiência com Herodes que estava tremendamente irado contra estas cidades. Conseguiram, e o local dessa audiência foi o anfiteatro de Cesaréia, aberto e situado às margens do Mediterrâneo e de ótima acústica, até hoje, apesar das ruínas.

Devido à acústica que favoreceu a Herodes e também aos seus trajes reais entretecidos com fios de prata, que ofuscavam a vista à luz do sol, o povo encantado, clamando que Herodes era um Deus.

Por não fazer nenhuma objeção ao louvor que recebia e não dar glórias ao único Deus verdadeiro, Herodes foi punido pelo Senhor com a morte.

Expirou comido por vermes!

10.      A extensão da Igreja como testemunha que testifica ao mundo inteiro - Cap. 13-28

O testemunho até aos confins da Terra

10.1       A primeira viagem missionária de Paulo - (Cap. 13,14)

Em Antioquia da Síria haviam profetas e doutores, entre eles, Manaém, que era irmão de Leite de Herodes. Manaém fora criado junto com Herodes  Antipas (que matou João Batista) e deveria ter a mesma idade dele. Estando a igreja servindo a Deus e orando, o Espírito Santo separou a Barnabé e Saulo para uma missão.

Foram então despedidos com oração e imposição de mãos para uma viagem cuja duração seria de mais ou menos cinco anos (45-50 d.C.).

Trajeto da primeira viagem: Antioquia da Síria - o primeiro centro do cristianismo gentílico. Desceram à Selêucia - porto marítimo de Antioquia.

10.1.1      Chipre

Uma ilha no mar Mediterrâneo. O lar anterior de Barnabé. Salamina (13.5) - Era uma cidade situada na Costa Oriental de Chipre. Nesta cidade anunciavam a Palavra nas sinagogas dos judeus. João Marcos, sobrinho de Barnabé, os auxiliava. Nota: João Marcos é o autor do Evangelho que ocupa o segundo lugar no Novo testamento (At 12.25; Cl 4.10). Pafos (sudoeste de Chipre) - Capital da ilha de Chipre e residência do procônsul (governador) Sérgio Paulo. Este procônsul interessou-se pelo Evangelho, mas Elimas, um judeu mágico, conhecido como Barjesus (filho de Jesus) tentou impedi-lo de dar atenção aos missionários. Paulo repreendendo-o, fez com que ficasse instantaneamente cego, o que durou algum tempo. Sérgio Paulo creu então, maravilhado, na doutrina do Senhor (v. 12). Nota: A mudança de nome de Saulo para Paulo não têm nenhum significado especial ligado à sua conversão, mas é somente ao fato de que estando agora empenhado em evangelizar os gentios o seu nome romano, Paulo, se tornara mais conveniente. Não se trata de uma tradução, pois Saulo, no grego Saulo, corresponde ao hebraico Shaul - Saul, e Paulo era do latim Paulus.

10.1.2      Perge da Panfília - Cap. 13.13

Perge, capital da província da Panfília. A partir de Perge, vemos uma mudança de liderança, não mais o nome de Barnabé é mencionado, mas sim, “Paulo e seus companheiros.” João Marcos, em Perge, talvez devido às dificuldades e desconforto da viagem, abandona a Paulo e Barnabé (realmente como um desertor) e volta para Jerusalém. Para Paulo, esta atitude era quase indesculpável. Nessa cidade, eles não pregaram e com a mudança de liderança, Paulo muda a estratégia adotada. Não mais percorriam todo o território, mas iriam somente às cidades chaves, e estas, uma vez evangelizadas, se encarregariam de propagar o cristianismo nas circunvizinhanças.

10.1.3      Antioquia da Psídia - Cap. 13.13-52

Centro da administração civil e militar da parte sul da província romana de Galácia. Pregaram nesta cidade o tempo suficiente para fazer alguns discípulos (v. 52), na sua maioria, gentios. Foram expulsos pelos judeus, e sacudindo contra eles o pó de seus pés (Lc 9.5; Mt 10.14) partiram para Icônio.

10.1.4      Paulo em Icônio, Listra e Derbe - Cap. 14.1-21

a.       Icônio, capital da Licaônia, noventa e sete quilômetros a leste de Antioquia. Neste lugar ficaram por muito tempo e o Senhor operava por intermédio deles. Os judeus e os gentios incrédulos, estavam se amotinando para os apedrejarem, mas souberam disso e fugiram para Listra. Foi covarde esta atitude? (ver Mt 10.23).

b.      Listra (vs. 16-20), uma cidade da Licaônia e colônia romana. Nessa cidade Paulo, em nome do Senhor, curou um coxo de nascença. Por esse motivo o povo pagão daquele lugar julgou serem eles deuses. Como Paulo era o orador, chamaram-no mercúrio (Hermes no grego, o deus que transmitia as mensagens de Júpiter) e a Barnabé  chamaram Júpiter (Zeus, supremo deus da mitologia grega). Queriam oferecer-lhe sacrifícios, porém não aceitaram, mas anunciaram-lhes o Evangelho. Os judeus de Antioquia e Icônio chegaram e conseguiram convencer a multidão a apedrejá-los. Paulo foi arrastado para fora da cidade como morto, mas recebeu os cuidados de alguns discípulos (v. 20) e partiu com Barnabé para Derbe. Nota: Grinaldas - Cap. 14.13 - eram tiras de lã usadas para decorar as vítimas dos sacrifícios. Com frequência eram feitas com folhas verdes de ciprestes, ou de pinheiro, com flores.

c.       Derbe (vs. 20-21), Noventa e seis quilômetros de Listra. Nesta cidade não havia sinagoga. Puderam pregar sem a oposição dos judeus, pois estes pensaram tê-lo morto em Listra. Formaram uma igreja forte e então voltaram para Listra, Icônio e Antioquia da Psídia.

Na volta a preocupação deles não era evangelizar, mas procuraram fortalecer as almas dos discípulos, (14.20-28) e em cada cidade elegeram um ancião (presbítero) para cuidar da igreja.

Na volta passaram por Listra, Icônio, Antioquia da Psídia, Perge, lugar onde João Marcos havia se apartado). Como em Perge não houvessem pregado na viagem de ida, pregaram na volta. Atália: porto marítimo de Antioquia prestaram relatório de sua viagem e permaneceram com os irmãos “não pouco tempo” (14.28).

10.2       O concílio em Jerusalém  - Cap. 15.1-35

Conforme já vimos no capítulo 11, versículo 2, a conversão de Cornélio levantou na igreja uma séria questão sobre doutrina. Alguns judeus crentes, mais tarde chamados judaizantes, começaram a ensinar aos gentios que se não fossem circuncidados de acordo com o costume de Moisés, não podiam ser salvos. Este ensino judaizante trouxe muita perturbação e discussão. Por este motivo Paulo, Barnabé e uma delegação foram até Jerusalém para decidirem a questão com os apóstolos e os anciãos.

Pedro contou suas experiências com gentios na casa de Cornélio. Paulo e Barnabé testemunharam das coisas que Deus operou por meio deles entre os gentios e, por fim, Tiago (irmão de Jesus) tomando a palavra expôs o seu parecer e propôs que se pedisse aos gentios que se abstivessem de algumas coisas, a saber: do alimento sacrificado aos ídolos da falta de castidade, da carne de animais sufocados e do sangue.

A assembléia concordou e formulou uma carta para enviar à Antioquia, tornando claro que estas exigências mínimas deviam ser impostas sobre os gentios. Assim foi feito e a carta foi levada por Judas e Silas, que acompanharam Paulo e Barnabé.

Nota: circuncisão - rito considerado mosaico, apesar de datar do tempo de Abraão (Gn 17.11-12) devia ser realizado ao oitavo dia. Simbolizava uma geração santa, separada para o Senhor. O rito consistia na amputação do prepúcio. Bênçãos apropriadas eram proferidas quando da realização do rito, seguido por uma refeição festiva.

10.3       A segunda viagem missionária de Paulo - Cap. 15.36 e 18.22

10.3.1      Seus companheiros de viagem

Por não entrarem num acordo, Paulo e Barnabé acabam por se separarem. Se era Paulo ou Barnabé que tinha mais razão não podemos afirmar. Certo é, porém, que Marcos mais tarde foi aceito por Paulo (II Tm 4.11). Parece também que Barnabé tinha razão em insistir que dessem a Marcos uma oportunidade mais para provar sua fidelidade, por mais tarde veio a escrever o segundo Evangelho. Por outro lado a firmeza de Paulo, sem dúvida, contribuiu tanto quanto a longanimidade de Barnabé, para restaurar o jovem Marcos à obra Missionária.

Quanto à separação de Paulo e Barnabé, sabemos que não deixou rancor no coração de nenhum deles a despeito da “não pequena desavença...”(15.39) havia entre eles. (I Cor. 9.6; Cl 4.10).

Barnabé com João Marcos navegaram para Chipre, terra que lhes era familiar, e Paulo com Silas partiram para a segunda viagem missionária que durou aproximadamente quatro anos (51-54 D.C.).

Vamos dividir esta viagem em três seções: Na Ásia Menor, na Europa, e o regresso

Na Ásia menor o ponto de partida foi a Antioquia da Síria. Passando pela Síria e Cilícia Paulo visitou duas igrejas organizadas ali. Ao chegarem em Listra, Paulo e Silas são acompanhados por Timóteo.

Com a finalidade de ganhar para Cristo os judeus, Paulo, apesar de saber ser um ato desnecessário, circuncidou Timóteo antes de levá-lo consigo, pois era filho de grego (I Cor 9.20-21).

Em Trôade dois acontecimentos importantes: (a) Paulo à noite tem a visão do varão da Macedônia que lhe roga: “Passa à Macedônia e ajuda-nos (16.9). (b) Lucas junta-se ao grupo como missionário e diarista, isto é, fazia um relatório diário dos acontecimentos da viagem (16.10).

10.3.2      Paulo em Filipos

Na Europa - cruzaram o mar Egeu, até Neápolis na Macedônia, o porto do mar de Filipos.

A Samotrácia (16.11) é uma pequena ilha ao nordeste do Mar Egeu.

Filipos era a cidade principal de seu distrito e uma colônia romana, onde não havia sinagoga. Nesta cidade Paulo fundou a primeira igreja da Europa, da qual Lídia, a vendedora de púrpura, foi o primeiro membro. Em Filipos as reuniões de oração eram feitas à beira de um rio.

Nota: Púrpura - matéria corante extraída de um molusco do mar. Lídia vendia tecidos coloridos com púrpura (roxo).

Ainda em Filipos Paulo expulsa o espírito adivinhador de uma jovem, o que ocasionou um conflito com seus senhores pagãos.

Nessa ocasião Paulo e Silas são presos e espancados, e o fato de Paulo possuir o título de cidadão romano é mencionado no livro de Atos pela primeira vez. No cárcere, ao louvarem a Deus, são milagrosamente libertos por um terremoto. Esse milagre causou a conversão do carcereiro e toda a sua família.

De Filipos passaram através de Antipolis (sua capital) e Apolônia para Tessalônica (atualmente Salônica) a 160 quilômetros de Filipos.

10.3.3      Paulo em Tessalônica e Beréia

Tessalônica, a maior cidade da Macedônia, centro comercial e cidade livre. Como de costume dirigiram-se primeiro aos judeus na sinagoga e lhes anunciaram a Jesus, o Cristo ressuscitado. Poucos judeus se associaram a Paulo, porém, muitos gregos. Repetem-se em Tessalônica cenas de intolerância e perseguição.

Os judeus os perseguirem os missionários prenderam Jason, em cuja casa estavam hospedados, mas não os encontraram. Jason e alguns outros foram a julgamento. A acusação girando sempre em torno de Jesus, sob o aspecto político de um rei, ou sob o aspecto religioso da ressurreição. Os magistrados, contentando-se com a satisfação dada por Jason, soltaram-nos, mediante fiança.

À noite Paulo e Silas fogem para Beréia, a oeste de Tessalônica uns oitenta quilômetros.

Lucas elogia os bereanos dizendo que foram mais nobres que os de Tessalônica (v. 11). Pois submetiam a pregação do apóstolo Paulo à prova das Escrituras.

Os judeus de Tessalônica vieram até Beréia para excitar as multidões e ajudados pelos irmãos Bereanos, Paulo partiu para Atenas, enquanto que Silas e Timóteo ficaram ali aguardando ordens.

10.3.4      Paulo em Atenas

Em Atenas Paulo teve a mais fria recepção. Essa cidade foi durante mil anos, de 500 a.C., o centro de filosofia, literatura, ciência e Arte. Todavia, estava de todo entregue à idolatria. Notem o encontro de Paulo com os membros de duas escolas de filosofia - os epicureus e os estóicos... os epicureus eram os céticos que rejeitavam toda religião. Seguidores de Epícuro criam que os deuses não interferiam em nada com os humanos, e que eram incapazes de castigar alguém. Distinguiam entre o bem e o mal da seguinte maneira: tudo o que cause prazer é bem, e tudo o que causa dor é mal. O sentido real da felicidade para eles era o “prazer”, principalmente a sensualidade.

Os estóicos eram seguidores de Zenão de Cício, ensinados a serem indiferentes à dor e ao prazer, à alegria e à tristeza, e aceitarem as leis da natureza.

Enquanto aguardava a chegada de Silas e Timóteo em Atenas, além de pregar na sinagoga Paulo conversou na praça pública com alguns destes filósofos “prontos para escutar tudo, mas relutantes para crer”. Foi convidado por eles para pregar no areópago (suprema corte de Atenas) na colina de marte. Estes o ouviam com atenção pois tanto os estrangeiros lá residentes, como os atenienses “não se ocupavam de outra coisa a não ser em ouvir e contar alguma novidade” (17.21).

Quando no decorrer de sua mensagem, Paulo mencionou a ressurreição de Cristo, foi interrompido com zombaria. Porém, apesar de sua mensagem ter ficado incompleta, teve com resultado algumas conversões: Dionízio (membro do conselho), uma mulher importante chamada Dâmaris e mais alguns outros.

10.3.5      Paulo em Corinto - incluindo a volta à Antioquia

Corinto - uma das principais cidades do império romano, centro comercial onde Paulo pôde voltar novamente ao seu ofício de fazer tendas, o que não tinha sido possível em Atenas. Trabalhou nesta cidade com Priscila e Áquila, judeus expulsos de Roma por ordem de Cláudio imperador romano.

Dentro de pouco tempo Silas e Timóteo voltaram da Macedônia trazendo notícias do crescimento das igrejas.

À reação da sinagoga à mensagem de Paulo foi negativa e, por isso os deixou entregues à sua descrença.

Muitos Coríntios creram na palavra, inclusive Crispo, o chefe da sinagoga com toda a sua casa.

Ali permaneceram por um ano e meio. Escreveu nessa ocasião as duas epístolas aos Tessalonicences. Os judeus tentaram acusar Paulo perante gálio (procônsul da Acaia), porém este não lhes deu atenção. Então revoltados espancaram Sóstenes, o novo chefe da sinagoga (convertido, I Cor 1.1).

10.3.6      O regresso

Acompanhado por Áquila e Priscila, Paulo começa a voltar ao oriente. Em Cencréia (porto de Corinto) raspa a cabeça, porque tinha feito voto.

Nota: Raspar a cabeça: provavelmente era um voto nazireu modificado, um voto que exprimia total dedicação a Deus e à sua vontade. O cabelo era sempre cortado por ocasião da conclusão do período do voto (Nm 6.1-21).

Deixou Áquila e Priscila em Éfeso, iniciando ali seu ministério. Na sinagoga sua mensagem foi bem aceita pelos judeus que queriam que ele se demorasse mais, mais ele não concordou.

Passando por Cesaréia subiu a Jerusalém, saudou a igreja e desceu à Antioquia, de onde havia partido anos antes.

10.4       A terceira viagem missionária de Paulo - Cap. 18.23 a 21.16

Itinerário: De Antioquia da Síria, passando por Cilícia, Galácia e Frígia, foi a Éfeso na Ásia e a Corinto, na Grécia (também chamada Acaia). De Corinto, através da Macedônia, a Trôade, Mileto, Tiro, Cesaréia e, de lá, foi a Jerusalém pela quinta  e última vez. O tempo gasto nesta viagem foi de quatro anos (54 a 58 D.C.).

10.4.1      Apolo e os discípulos de João Batista

Enquanto Paulo viajava pelas regiões da Frígia e Galácia fortalecendo os discípulos, chegou a Éfeso um varão judeu chamado Apolo, que era natural da Alexandria. Alexandria era um dos maiores centros de instrução, célebre por sua biblioteca, a maior do mundo. Falava com ousadia na sinagoga, pois era bem versado nas Escrituras, porém só conhecia o batismo de João. Homem culto e dedicado ao serviço de Deus, Apolo não estava inteirado do Evangelho completo, pois não sabia da morte, ressurreição e ascensão de Cristo e também não conhecida o batismo no Espírito Santo.

Com amor e cuidado o casal pôde “afiar a espada do grande Apolo” e encaminhá-lo à Acaia, onde com grande veemência provava aos judeus, pelas Escrituras, que Jesus é o Cristo.

10.4.2      O trabalho de Paulo em Éfeso

Nota: A cidade de Éfeso - no tempo de Paulo era o centro do comércio do mundo civilizado. Mas a cidade não era conhecida tanto por seu comércio, nem tanto por sua grande população, e nem por sua opulência, como pelo famoso templo da deusa Artêmis, ou Diana, considerado como uma das sete maravilhas do mundo.

Aí afluíam peregrinos vindos de muitos países e levando grandes riquezas. Os sacerdotes dos templos eram banqueiros que lucravam enormes rendas.

Grandes multidões de peregrinos participavam dos ritos imorais nos cultos à Diana. Muitos artífices se enriqueciam fazendo e vendendo miniaturas do templo de Diana (nichos). Além de tudo isso Éfeso era a sede da arte mágica, de exorcismo, de espiritismo, de astrologia e de quase toda a sorte de superstições. Foi nesta cidade, contudo, que Paulo passou mais tempo que em qualquer outro lugar e onde houve o maior avivamento de todos.

Aqui Paulo ensinou durante três meses na sinagoga. Por dois anos ensinou os discípulos na escola de Tirano e nesse espaço de tempo todos os habitantes da Ásia ouviram a Palavra.

Os sete filhos de um principal dos sacerdotes chamado Ceva, tentaram expulsar um demônio baseados na experiência de Paulo usando a expressão: “em nome de Jesus a quem Paulo prega”, e foram envergonhados fugindo nus feridos. Os praticantes de magia, crendo em Jesus, queimaram em, praça pública seus livros, estimados em “cinquenta mil peças de prata”, equivalendo a cinquenta mil dias do serviço dum trabalhador, ou seja, mais do que o salário de cinco homens trabalhando juntos durante trinta anos. Os ourives da cidade, liderados por Demétrio, por medo de perder suas fontes de rendas provocam um tumulto no teatro, para onde afluiu todo o povo da cidade. Temendo a punição do governo romano por acontecer tão grande anarquia sem explicação lógica, o escrivão da cidade consegue colocar um paradeiro ao tumulto.

Ao passar o alvoroço Paulo parte para a Macedônia.

10.4.3      Paulo visita a Grécia e retorna à Mileto

Tendo consigo sete companheiros (v. 4), Paulo passando pela Macedônia, chegou à Grécia (Acaia). É possível que nesse tempo tenha visitado Filipos, Tessalônica e Beréia. Aqui escreveu sua II Epístola aos Coríntios. Na Grécia  passou três meses, mas devido às ciladas armadas pelos judeus voltou para a Macedônia por terra, até Neápolis ainda acompanhado pelos seus irmãos.

A missão principal na Grécia era visitar a igreja de Corinto. Em corinto escreveu a epístola aos romanos. Passando por Filipos dirigiu-se a Trôade, gastando cinco dias de viagem. Em Trôade reencontra seu companheiro que o tinham precedido na viagem da Ásia. Após uma permanência de sete dias, Paulo como despedida pregou por uma noite toda. Durante o seu sermão um jovem (Êutico) tendo dormido, caiu do terceiro andar pela janela e morreu. Deus, por intermédio da oração de Paulo, lhe devolveu a vida, Paulo determinou que seus companheiros navegassem para Assós e lá o esperassem pois ele iria por terra. De lá encontraram-se e viajaram juntos para Mileto, passando pelas ilhas de Mitilene Quio, Samos e pela cidade de Trogílio na Costa da Ásia Menor.

10.4.4      D - A alocução de Paulo aos presbíteros de Éfeso

E em Mileto Paulo mandou chamar os presbíteros da igreja de Éfeso e despediu-se deles com uma mensagem na qual fez um resumo de seu ministério entre eles, advertindo-os para que ficassem vigilantes, pois falsos pastores se levantariam para arrastarem o rebanho para si. Ajoelhou-se em seguida e orou com todos eles e despediu-se com abraços e ósculos santo, pois estava certo de que nunca mais se encontrariam (v. 25.38).

Nota: “Não vereis mais o meu rosto”. - Tratava-se de um pressentimento do apóstolo que não tinha base na realidade, pois suas epístolas pastorais indicam que Paulo visitou aquele território novamente, após o seu primeiro aprisionamento em Roma (ler I Tm 1.3; 3.14 e 4.13; II Tm 4.13; 4.20).

10.4.5      Paulo em Tiro e Cesaréia

A terceira viagem missionária de Paulo estava chegando ao fim. Embora tivessem surgido de cidade em cidade profecias acerca de sua prisão em Jerusalém, Paulo desejava chegar à cidade Santa antes da Páscoa, rever os irmãos e entregar a oferta que levantara para socorrer aos cristãos necessitados. Devido a essa pressa não houve mais preocupação de evangelizar os lugares por onde passaram. A demora em Tiro foi maior, por ser um porto importante, por isso Paulo procurou os discípulos com os quais ficou sete dias. Quando depois deixaram o navio em Cesaréia, hospedaram-se em casa de Filipe, o diácono (cap. 6) que era evangelista.

Tanto em tiro como em Cesaréia, o Espírito Santo começou a revelar pelos profetas o que estava para acontecer a Paulo em Jerusalém (cap. 20.23; 21.4; 10,12). Ele porém prosseguiu disposto a enfrentar as dificuldades e os perigos anunciados (v. 13).

Podemos dar por encerrada aqui a terceira viagem missionária. Em Jerusalém  foram recebidos alegremente em casa de Mnasom, antigo discípulos que vinha com a comitiva desde Cesaréia.

10.5       A chegada do apóstolo Paulo à Jerusalém e a sua prisão - Cap. 21.17 a 26.32

10.5.1      Sua captura

Paulo, que fora recebido alegremente em Jerusalém, no dia seguinte foi com Lucas à presença de Tiago (irmão do Senhor), pastor da igreja local, o qual estava reunido com os presbíteros da mesma. Perante estes irmãos teve a oportunidade de relatar as coisas que o senhor fizera por seu intermédio entre os gentios (27.10) (ler 14.27). Por este motivo glorificavam a Deus. Muitíssimos judeus haviam crido, porém estavam muito mal informados a respeito do que Paulo andava ensinando aos Judeus dentre os gentios (21.21).

Paulo ouviu comentários injustos sobre os seus ensinamentos, sendo tido como anarquista religioso, que ensinava aos judeus pelo mundo afora a abandonarem a lei de Moisés.

Os líderes da igreja sugeriram que Paulo, para provar que andava retamente guardando a Lei de Moisés, patrocinasse as despesas de outros quatro judeus que haviam feito voto e juntamente com eles permanecessem no templo. Assim fazendo ninguém poderia acusá-lo de ser inimigo das tradições. Paulo procedeu desta forma, todavia, de nada valeu o expediente adotado, porque houve um alvoroço no templo (v. 28) que estendeu-se a toda a cidade (v. 30). Acusado injustamente por uns judeus vindos da Ásia e que tencionavam matá-lo, foi por  eles agarrado e arrastado para fora do templo.

O alvoroço atingiu tal proporção que foi necessária a intervenção do tribuno Cláudio Lísias, aquartelado nas proximidades do templo, na torre da Antônia, com centuriões e soldados mantidos pelo governo para garantir a ordem. Os soldados tiveram que carregar Paulo para cima das escadas da área do templo, por causa da pressão da massa humana que queria matá-lo.

O comandante chegou a pensar que Paulo fosse um revolucionário egípcio mas identificando-se como judeu da importante cidade de Tarso, pediu permissão para falar ao povo, e foi-lhe concedida.

10.5.2      A defesa de Paulo perante os judeus

O discurso de Paulo, nas escadarias da fortaleza (ou torre de Antônia), foi a primeira defesa das cinco que lhe foi permitido fazer.

Nesta defesa perante a multidão de judeus, Paulo deu ênfase à sua herança como judeu e ao seu encontro com Cristo. Descreve sua própria biografia. Não querendo mais ouvi-lo os judeus o interrompem recomeçando o alvoroço.

O comandante decidiu esclarecer tudo prendendo e mandando que o após tolo fosse açoitado, o que não ocorreu, visto ter Paulo se identificado como cidadão romano. Como já lhe houvessem atado as mãos com correias, ficaram temerosos e as soltaram, convocando o sinédrio e os principais sacerdotes para que o julgassem.

10.5.3      Paulo perante o tribunal dos judeus

Depois de passar a noite preso na fortaleza, Paulo no seu segundo dia em Jerusalém, foi levado perante os principais sacerdotes e todo o sinédrio.

Sabendo ser o sinédrio composto por fariseus e conhecedor de suas doutrinas, Paulo tirou proveito da situação dizendo-se fariseu e apresentando como motivo de seu julgamento o seguinte: “No tocante a ressurreição dos mortos sou julgado”(23.6).

Estas palavras causaram grande dissensão entre os membros do sinédrio e na confusão que ocorreu Paulo teve que ser arrancado de lá pelos romanos e levado de volta sob custódia.

Na noite seguinte Paulo foi encorajado pelo próprio Senhor que lhe pareceu e disse: “coragem! Pois de modo porque deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que o faças também em Roma... (23.11).

Havia muito tempo que Paulo queria ir para Roma, porém o meio pelo qual seria levado até lá ainda não sabia.

10.5.4      Paulo é enviado a Cesaréia

Mais de quarenta homens “religiosos” e com o apoio dos sacerdotes, fizeram uma conspiração para assassinar a Paulo, visto que nada conseguiram amotinando a multidão contra ele e nem no processo legal. Este plano porém foi frustado pois um sobrinho de Paulo ouviu cerca dessa cilada e a denunciou a Paulo. Quando o tribuno Cláudio Lísias percebeu a firme determinação dos judeus de matar um cidadão romano, não poupou esforços para lhe salvar a vida. Escreveu uma carta ao governador Félix em Cesaréia e designou dois centuriões para levar Paulo e entregarem a carta ao governador.

A cavalo, escoltado por quatrocentos soldados armados, Paulo faz a primeira etapa da viagem, rumo a Roma, conforme a provisão de Deus.

Em Cesaréia foi levado diante do governador Félix que ordenou que fosse guardado sob custódia até a chegada dos seus acusadores.

10.5.5      Paulo perante Félix

Nessa ocasião Paulo fez sua terceira defesa. Seus acusadores chegaram de Jerusalém poucos dias mais tarde. Eram algumas autoridades religiosas judaicas acompanhadas por Tértulo, um advogado romano.

Três acusações foram feitas contra Paulo: Sedição - levantar o povo contra o governo; Heresia - causando divisões religiosas mediante a pregação de falsas doutrinas; Sacrilégio - profanação do templo.

Paulo respondeu às três acusações na mesma ordem em que Tértulio as tinha feito. Quando Paulo terminou de falar, Félix decidiu adiar a questão até que Cláudio Lísias descesse a Cesaréia. Enquanto isso, ordenou que tratassem a Paulo com brandura e permitiu que fosse servido e visitado pelos seus.

Alguns dias mais tarde Félix voltou com Drusila para ouvir as palavras de Paulo.

Paulo sem vacilar, meteu-lhes a espada do Espírito Santo nos corações falando sobre a justiça, o domínio próprio e acerca do juízo vindouro.

Drusila - fôra casada com Aziz, rei de Emesa, mas Félix a induziu a abandonar o próprio esposo para se unir a ele. Era filha de Herodes Agripa I (que mandou executar à espada o apóstolo Tiago).

Félix amedrontado com o julgamento futuro para a sua situação, deixou para continuar a conversa com Paulo numa outra oportunidade, a qual nunca chegou! Frequentemente chamava a Paulo para conversar, mas na expectativa de que Paulo lhe oferecesse dinheiro em troca da sua liberdade. Dois anos se passaram e Félix foi substituído por Porcio Festo, e Félix para agradar aos judeus, deixou que Paulo continuasse preso.

10.5.6      Paulo Perante Festo apela para César

Três dias após sua posse, festo vai a Jerusalém e os judeus o cercaram para acusar Paulo.

Foi marcado então um novo julgamento que ocorreu oito ou dez dias depois em Cesaréia. Era já o quarto julgamento.

Seus acusadores foram os judeus de Jerusalém que apresentaram muitas e graves acusações, mas não puderam provar.

A repetição das acusações e a defesa de Paulo se haviam tornado  monôtonas, e Lucas não as registrou mais.

Uma vez que os acusadores não podiam provar suas acusações contra Paulo (v. 7) e o acusado negava as acusações, o governador deveria liberá-lo. Mas não o fez, sendo influenciado pelos judeus antes pretendiam levá-lo à Jerusalém. Por este motivo então o apóstolo decide apelar para César.

Nota: César - Nero era o César. Até esta altura Nero tinha bons conselheiros e Paulo tinha toda razão de estar confiante em conseguir um julgamento justo em Roma. No ano 59 D.C. Nero não tinha se envolvido em nenhuma campanha contra os cristãos. Sob a lei romana por este tempo não era crime ser cristão.

10.5.7      Paulo defende-se perante o rei Agripa

O rei Agripa (Herodes Agripa II, filho de Herodes do capítulo 1 de Atos) com Berenice sua irmã viúva, vieram à Cesaréia saudar ao novo governador, Festo. Quando Festo mencionou o caso de Paulo, despertou em Agripa o desejo de ouvi-lo.

Nesta sua quinta defesa podemos observar o cumprimento da predição de At. 9.15, Paulo sendo testemunha perante reis...

Paulo foi chamado ao auditório diante do rei Agripa e Berenice, que se trajavam com vestes reais e toda sua comitiva, com muita pompa Agripa permite a Paulo defender-se (embora não houvessem acusadores presentes). Pela terceira vez o livro de Atos narra, nessa ocasião a conversão de Paulo.

Paulo relata em seu discurso: Sua vida antes da conversão - v. 4.11; sua experiência de conversão - v. 12-18; Seu testemunho depois da conversão - v. 12-18

Segundo indicam os versículos 27 e 29 Paulo fez Agripa um apelo pessoal, ao qual ele resistiu.

Agripa reconhece a inocência de Paulo, mas como este tivesse apelado para César precisaria apresentar-se perante ele.

Nota: Berenice - era irmã de Drusila e do rei Agripa. Como sua irmã Drusila, Berenice era dotada dum caráter licencioso, vivendo conforme a opinião de muitos, ilicitamente com seu próprio irmão Agripa.

10.5.8      Paulo a caminho de Roma

10.5.8.1      O naufrágio

Após o discurso perante o rei Agripa e outros grandes personagens, Paulo partiu para Roma como prisioneiro.

A palavra “nós” no v. 2 indica que Lucas era um dos companheiros de viagem (comp. II Tm 4.11), além de Lucas, Aristarco de Tessalônica o acompanhou e mais tarde esteve preso com Paulo (Cl 4.10).

Haviam também outros presos, todos sob os cuidados do centurião romano Júlio. No início o mar estava calmo e a viagem fascinante. Em Sidon, Júlio permitiu a Paulo ver os amigos e receber deles alguns cuidados. Em Mirra na Lícia, sul da Ásia, Paulo e seus amigos, bem como todos os outros presos, são transferidos para um navio de Alexandria que levava uma carga de trigo para a Itália.

A partir de Mirra encontraram ventos contrários e o perigo da sirte (banco de areia a oeste de Cirene). Não conseguindo alcançar Cnido chegaram com dificuldades até Bons Portos, perto da cidade de Laseia.

Paulo os aconselhou a não prosseguirem, prevenindo-os de um grande temporal, porém não lhe dando crédito, partiram com a intenção de passar o inverno em Fênix.

Antes de chegarem a Fênix, um terrível tufão chamado euro-Aquilão (violento vento de inverno) os impeliu para perto do outro lado do mediterrâneo, no meio de uma tempestade que durou quinze dias.

Quando a situação tornou-se desesperadora e tanto o comandante do navio como o centurião viram-se incapazes de fazer alguma coisa, Paulo os animou contando-lhes as palavras do anjo que lhe aparecera, garantindo-lhe que todos chegariam a salvo em Roma.

O navio finalmente veio a encalhar na praia de Malta, perto da Itália onde começou a ser despedaçado pelas ondas.

Conforme o costume romano, os soldados queriam matar os prisioneiros para evitar que fugissem, mas pelo toque de Deus, Júlio foi impulsionado a poupar a vida de todos.

10.5.8.2      Em Malta

Malta, conhecida antes como Melita, é uma ilha no Mar mediterrâneo com o comprimento de trinta quilômetros da Silícia e duzentos e quarenta da Itália.

Conforme Paulo havia anunciado, todos escaparam ilesos. As duzentas e setenta e seis pessoas do navio foram carinhosamente socorridas pelos malteses. Vendo que Paulo sobreviveu tanto ao naufrágio quanto à picada de uma víbora, começaram a dizer que ele era um deus.

Hospedados na casa de Públio, o governador da ilha, o apóstolo pôde servir de bênçãos para os habitantes daquele lugar, a começar pelo pai de Públio que recebeu a cura divina através da oração de Paulo.

Após o período das tempestades marítimas, Paulo e seus companheiros foram embarcados num navio de transporte de trigo. Como gratidão, os habitantes de Malta puseram a bordo todo o necessário para a viagem.

Nota: Bárbaros ou indígenas - os malteses eram assim chamados, não por serem selvagens, mas simplesmente por não faltarem grego nem, latim

10.5.9      Paulo é recebido em Roma

Passando por Siracusa e Régio, chegam a Puteoli (baía de Nápolis) onde encontraram alguns irmãos com os quais ficaram sete dias.

Os cristãos romanos tiveram notícia da chegada de Paulo e enviaram delegações a encontrá-lo na cidade-mercado chamada praça de Ápio, a sessenta e quatro quilômetros de Roma, ao Sul. Passaram também pela cidade de três vendas, a cinquenta e três quilômetros de Roma. O encontro de Paulo com os novos irmãos lhe causou um novo ânimo e deu graças a Deus. Ao chegar finalmente em Roma, foi entregue ao comandante da guarda pretoriana de Nero, mas foi-lhe permitido morar à parte, acorrentado pelo pulso a um soldado que o guardava.

Lucas e Aristarco também ficaram em Roma para ajudá-lo nesse período (Cl 4.10-14; Fm 24).

Em Roma havia sinagoga e passados três dias Paulo reuniu-se com os principais dos judeus e lhes contou porque era prisioneiro de Roma. Esses judeus disseram não ter recebido da Judéia nenhuma carta falando alguma coisa má a seu respeito, mas também não demonstraram nenhum interesse pelo cristianismo, chamando-o de “seita que por toda parte é impugnada”.

Tendo durante um dia todo pregado aos judeus em sua casa, e alcançando o mínimo de resultados, tomou a decisão de dali para frente pregar aos gentios, na certeza que por eles seria ouvido.

E por dois anos, teve a oportunidade de pregar e ensinar a todos quantos o procuravam em sua casa, “com toda a liberdade..., sem impedimento algum...”

Assim Lucas para a sua narrativa, terminando o livro de Atos sem uma conclusão formal.